quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Messalina, a Imperatriz Lasciva

Sexo - Crime - Sedução - Poder, na Roma Imperial.
O primeiro facto controverso da vida de Valéria "Messalina" é a sua data de nascimento.
Alguns historiadores apontam o ano 17, porém é quase certo que tenha nascido entre os anos 20 e 25.

Filha de Barbatus Messal e Domícia Lépida, Messalina era também neta de Antónia a Velha, de Lúcio Domício e bisneta de Marco António.
Descendente de família nobre romana, Messalina casou com o imperador Cláudio no ano 38 ou 39, teria 13 ou 14 anos, idade legal de casamento para uma romana nessa época.

Uma rapariga com esta idade não podia ter ambições políticas.
Para a família Messala, o casamento de Messalina com Cláudio foi de grande conveniência visto que Cláudio era o único parente vivo do então imperador Calígula.

Para Cláudio esta união também foi importante, dado que Messalina era descendente de uma familia nobre,  não esquecendo a sua idade avançada (cerca de 50 anos), e os seus defeitos físicos: coxo, gaguejava, e mau hábito de cuspir enquanto falavava.

Messalina foi a terceira esposa de Cláudio do qual teve dois filhos.
Cláudia Otávia no ano 40 (futura esposa do imperador Nero), e Britanicus (Britânico) no ano 41, três semanas após a nomeação de Cláudio ao principado.

Messalina- AE 18 cunhado em Eólia (ou Eólida) 41-48
Anv. Busto de Messalina drapeado à direita,
CEBACTH MECAɅEINA
Rev. Zeus nu, com um bastão na mão esquerda e uma águia na direira,
AIΓAEION
(RPC I-2430)

3 Messalina- AE 23cunhado em Niceia, Bitínia, 41-48.
Anv. Busto drapeado de Messalina à esquerda
MEΣΣAɅEINA ΣEBAΣTH NEA HPA
(Messalina Augusta Nova Hera)
Rev. Templo de Hera Niceia
ΓAΔIOΣ POϒФOΣ ANΘϒΠATOΣ
(Caius Claudius Rufus Procônsul)
(RPC I-2034)

Apesar da reputação (libertina)  da sua esposa, a paternidade de Cláudio nunca foi posta em causa.
Segundo os historiadores  nos primeiros tempos de vida comum, tudo indicava ser um casal feliz, mas as coisas complicaram-se aquando da elevação de Cláudio ao poder supremo.

Tirânica, logo que ascendeu ao poder e como primeira dama do império, Messalina impôs-se como uma imperatriz de uma malvadez sem limites com  três principais objetivos.
A continuidade dinástica, os seus amores clandestinos, e o gosto pela riqueza.

Célebre pelo seu invulgar apetite sexual, (a história também lhe atribui algumas ações complacentes), a imperatriz tornou-se a imagem do escândalo e da luxúria,  que segundo o escritor Juvénal não hesitava prostituir-se publicamente nos bordéis de Subura e, transformou parte do palácio imperial num autêntico lupanar.

Aqui Messalina (segundo Dion Cassius LX, 18) não só exercia a sua própria devassidão, como também convidava, incentivava e obrigava outras mulheres a prostituir-se com os seus próprios amantes, entre os quais alguns nobres, legionários e mesmo escravos, na presença dos maridos.

Por estes homens que consentiam, sentia amizade e mesmo admiração que  ela recompensava com honras e  postos de comando.
Para quem rejeitava estas obscenidades: odiava-os, conspirava para os rebaixar e por vezes mandava assassinar.

 Messalina e Antónia- AE 17 cunhado em Capadócia (Cesareia) 41-48.
Anv. Busto de Messalina laureado e drapeado à direita.
Rev. Busto de Antónia (sua avó)drapeado à direita.
(RPC I-3657) 

Tudo isto se praticava com muita frequência e Cláudio levou muito tempo a perceber o que se passava no seu palácio.

É certo que Messalina fazia tudo para o distrair o imperador, metendo escravas na sua cama e ao mesmo tempo recompensar quem a encobria, e castigar severamente alguém em que não tivesse confiança e pudesse avisar o marido da atividade da esposa.

Exemplo: no ano 43, por suspeitar da fidelidade de Catonius Justus comandante da Guarda Pretoriana, mandou-o assassinar.
O mesmo aconteceu a Júlia, filha de Druso e neta de Tibério, entretanto esposa de Nero (sobrinho de Cláudio) da qual ela tinha ciúmes.  

Alguns historiadores contemporâneos tendem todavia embelezar a vida de Messalina, mas todos reconhecem a realidade da devassidão, da libertinagem da imperatriz, enquanto outros dizem que não era um caso único.
É certo que outras damas do império foram libertinas, mas Messalina direi que foi um caso excepcional.

Cláudio e Messalina - AE 20, cunhado em Creta,  cerca do ano 43.
Anv. Cabeça de Cláudio laureada à esquerda.
TI KLAUDIUO KAESAR GERMA SEBASTOS GERMA 
(Tibério Cláudio César Augusto Vencedor dos Germanos .
Rev. Messalina com diadema e drapeada à direita.
OUALERIA MESSALEINA
(RPC I-1032)

Cláudio e Messalina-AE 17 cunhado em Paflagónia (ou Paflagônia) 40-41.
Cabeça de Cláudio laureada à direita.
CLAVDIVS CAES AVG CIF ANNO LXXXVI
Rev. Busto de Messalina drapeado à direita.
MESSALINA AVGVSTA
(Ref. RPC-2130)

Se a história tem enegrecido a personalidade de Messalina, o seu comportamento  não é sem precedentes na sociedade imperial.
Depois da morosidade durante o reinado de Augusto, os comportamentos libertaram-se subitamente durante os primeiros anos do reinado de Tibério.
Algumas matronas não hesitaram inscrever-se na lista das prostitutas recenseadas pelas autoridades, para  poderem  amar livremente sem temer qualquer penalidade.

Em Roma os lupanares situavam-se no populoso Bairo de Suburra e, era numa destas casas na cela com o nome de Lyscica inscrito na porta,  que a esposa do mal-aventurado Cláudio se oferecia à lubricidade pública, por encontrar que os amantes ( nem sempre eram escolhidos com grande delicadeza) que tinha não lhe davam o prazer que ela desejava.

Quão grande sanguinária como prostituta, era sobre este desprezível caráter de cortesã de baixa escala que Juvénal (poeta satírico latino do fim do século I) a considerava.
Quantos homens perderam a vida apunhalados por um escravo sob as suas  ordens, por terem rejeitado as suas propostas de amor, ou por terem divulgado a sua relação amorosa com a imperatriz.

Messalina tinha por hábito escapar-se do palácio aproveitando a escuridão da noite, escondendo o seu cabelo negro  com uma peruca loira, os seios cobertos com um manto de ouro, e acompanhada por um escravo (seu cúmplice) que  a guardava, e espiava os passantes nas ruas que conduziam aos bairros baixos de Roma.

Ao passar a porta do prostíbulo frequentado pela classe mais baixa de Roma, entrava  na cela da pretensa Lyscica e ali permanecia até satisfazer o seu apetite sexual.

Pela madrugada era necessário expulsar deste lugar maléfico, esta loba insaciável ainda que morta de fadiga. 
Nao havia diferença entre esta imperatriz  prostituta imunda e feroz, com as meretrizes gregas ou romanas, ou com a menos ilustre das cortisãs gregas, ainda que muito perversa e cobiçosa.

Em Messalina não havia mais que lubricidade bestial.
A sua vida foi marcada por um excesso de prazeres lascivos, extravagantes, e crueldade sanguinária.
Uma loucura monstruosa que aproveitou um poder que não estava previsto, para exercer as suas paixões lúbricas.

(Segundo o escritor C. E. Beulé (escritor e arqueólogo 1826-1874), nos personagens do século de Augusto havia um excesso de atividade libertina que era necessário reprimir.
Um temperamento que os princípios e  uma vigilância severa teria grande dificuldade em conter.)

Na sua pessoa, o prazer amargo dos sentidos e a fúria  do temperamento, tinham absorvido, desnaturado, exterminado, devorado  as outras forças.
Não havia nela amor pelas artes, pelas letras, a delicadeza intelectual que muitas vezes substitui a moral, nem sequer a presunção feminina da qual a máscara por vezes ainda se aparenta com a virtude.

Cláudio e Messalina-Tetradracma cunhado em Alexandria, 42-43.
Cabeça de Cláudio laureada à direita.
TI KɅAYΔI KAIΣ ΣEBA  ΓEPMANI AYTOKP
Rev. Messalina com véu, diadema e drapeada à esquerda, com duas  espigas  no braço  
esquerdo, e o direito estendido com duas crianças na mão, (Britânico e Octávia).
MEΣΣAɅI NA KAIΣ ΣEBAΣ
(Ref. BMC-73; Milne-94 var.; Curtis-17; RCV-1869 var.)

Cláudio e Messalina, AE 18 cunhado em Knossos, cerca de 48.
Anv. Cabeça de Cláudio à esquerda.
CLAVDIVS CAESAR AVG GERMANICVS
Rev. Messalina drapeada à direita.
VALERIA MESSAL
(Ref. RPC I, Knossos-1002)

Minada pelo vício, escrava do seu corpo, a volúpia  era o quotidiano deste ser que, por não estar sujeito a qualquer repressão, desenvolveu-se como uma doença crónica.
Todos os vicíos que um poder ilimitado lhe permitia satisfazer, levavam fatalmente à mesma atividade : a voluptuosidade.

Uma das maiores obcenidades que lhe são atribuidas, foi quando Messalina  se interessou pelo seu padrasto Ápio Silano, (segundo esposo da sua mãe)  que não cedeu aos seus avanços.
Messalina que  não lhe perdoou esta ofensa, conspirou contra ele e Cláudio deu ordens para que Ápio fosse executado. 

Cláudio, Informado por Tibéruis Claudius Narcissus (um dos seus espiões) acabou por descobrir que além da sua deboche, todos os escândalos, inclusive a sua prostituição em bordéis imundos, Messalina também tinha esposado o seu amante Gaius Silius, com um contrato de casamento em boa e devida forma.

A gota de água que fez transbordar o copo.
Cláudio assinou o contrato de casamento, porque lhe disseram que o documento era uma maneira de o proteger e condenar outros, contra uma ameaça que alguns bruxos tinham anunciado.
O imperador que não lhe perdoou esta ofensa, deu ordens para que fosse assassinada, o que aconteceu no ano 48 nos jardins de Lucullus.

Informado da morte de Messalina quando se encontrava num banquete com alguns amigos, Cláudio nem perguntou quem a tinha matado, apenas pediu para lhe encherem o copo e continuou a comer. (Suetónio, Cláudio, 26,  (Pag. 13/19)2

 
Cláudio e Messalina AE 20  cunhado na Lídia, 43-49
Anv. Bustos laureados e drapeados de Messalina e Cláudio.
TI KɅAY KAI ΣEBAΣ
Rev. Britânico em pé vestido com a toga, e espigas de milho na mão direita.
(Toga: peça de vestuário característica da Roma Antiga.)
(Ref. RPC, Trales Lídia -2654)   

Assim pereceu a incarnação da luxúria. Quanto a Cláudio, após alguns dias de silêncio declarou que não voltava a casar.
Esta é uma história quase incrível e muito controversa, mas sem dúvida com alguma verossimilidade. 
Uma análise desta estranha personalidade da Roma Imperial, “Messalina”, uma mulher fatal, da qual
ainda fica muito por contar.

MGeada

Bibliografia

Alfred Jarry, Messalina, Romance da Antiga Roma-edição Sistema Solar, idioma português, janeiro 2016.
Dina Sahyouni, Le Pouvoir Critique des Modeles Féminins dans les Mémoires Secrets : Le Cas  de Messaline.
Gérard Minaud ; Les Vies des Douze Femmes D´Empereur Romain-Devoirs, Intrigues & Voluptés, Paris, L´Hammatan, 2012, chap. 2, La vie de Messaline, femme de Claude, p. 39-64.
Jacqueline Dauxois: Messaline - Edition Pigmalion, 16-04-2012.
Jean-Noel Castorio: Messaline, la putan impériale, Edition Publicola, mars 2015.
Paul Veyne : La Société Romaine, Points Histoire, Editions du Seuil, 1995.
Pierre Grimal ; L´Amour à Rome, Petite Bibliothèque Payot, 1995.
Siegfried Obermeier; Messalina, a imperatriz lasciva, editora: geração editorial: idiona português - 2007.

domingo, 25 de novembro de 2018




Breve resumo das guerras romano-partas

Durante quase três séculos, Romanos e Partos guerrearam-se  pelo controlo  da Armênia, Síria e Mesopotânia.
O primeiro grande evento que marcou este conflito, foi a  derrota de Crasso contra os partos quando este ambicionava  conquistar a Mesopotânia na batalha de Carras no ano 53 a.C. (atual Harã na Turquia).

Esta foi uma das muitas batalhas entre a República Romana e o Império Parta, em que o comandante parta Surena, esmagou a força invasora romana comandada pelo general Marco Licínio Crasso.
Esta foi uma das maiores derrotas sofrida pelos romanos na qual o general perdeu as águias, símbolos das suas legiões.

Alguns anos depois no ano 40 a.C., Orodes II e seu filho Pácoro (que mais tarde governou como Pácoro I), juntamente com seu pai, invadiram a Síria, uma província romana após as conquistas de Pompeio e depois a Judeia.

O exército parta então dirigido por Pácoro I e Tito Labieno, (soldado professional romano), que se aliou com os partos e os serviu após o assassinato de Júlio César.

Quanto aos romanos, Marco António atacou a Arménia e Medos: uma das tribos de origem ariana que migraram da Ásia Cental, para o planalto iraniano.
No início vitorioso, a sua campanha virou desastre no ano 36 a.C..
Augusto que compreendeu que estava lidando com um adversário importante com os partos, preferiu desistir do confronto e escolheu a diplomacia.

No ano 20 a.C., ele assinou com Fraates IV um pacto de amizade que fixou o rio Eufrates como fronteira entre os dois impérios,  como sinal de boa vontade, restituiu as águias tomadas a Crasso na batalha de Carras no ano 53, e permitiu o regresso dos prisioneiros romanos.
Algumas moedas de Augusto comemoram este invento

Augusto – Denário cunhado em Roma pelo monetário Ferónia no ano 19 a.C.
Anv./-Ferónia busto drapeado, com diadema à direita,
TVRPILLIANS III VIR FERON  
Rev./-Parta de cabeça descoberta, ajoelhado à direita, segurando o vexilo marcado com um X
CAESAR AVGVSTVS SING RECE
(Ref. RIC I-288, BMCRE-14, RSC-484)

(Vexilo: em latin vexillum, era um objeto em forma de bandeira utilizado no período clássico do Império Romano como estandarte).

Em troca Augusto ofereceu a Fraates IV, uma escrava italiana, “Musa”, com a qual casou e teve um filho, “Fraates V”, mais conhecido por Fraataces que governou o império de 02 a.C. a 4 d.C..
Era o filho mais novo de Fraates IV. Em algumas moedas apresenta-se associado à sua mãe Musa.

Musa intriga e obtém que os outros filhos de Fraates sejam enviados para Roma.
Então afim de  não derrogar as tradições agora bem estabelecidas, Musa envenenou o seu esposo. e depois de casar com o seu filho Fraates V, instalou-se no trono e governou em seu nome.
Fraates V e Musa – Drachma, 03 a.C. – 02 d.C.
Anv./-Busto do rei à esquerda a ser coroado por duas Vitórias
Rev./-Busto da rainha à esquerda,
θEAC  OYPANIAC MOYCHC BACIΛICCHC
(Ref. BMC-25, Mitchiner-608)

Musa foi a única rainha parta a ser representada em raríssimas moedas de prata, muito procuradas pelos colecionadores.
Drachmas portadores da efígie de Fraates e Musa, também foram emitidos pelas cidades de Ecbátana Rhagae (ou Rhaganae) em número consideravelmente menor.
Tetradrachmas também muito raros foram cunhados em Selêucia e alguns pequenos bronzes em Ecbátana. 

Ao usar uma tiara ricamente decorada, Musa exibe inequivocamente sua qualidade de rainha.
ƟEAC  OYPANIAC MOYCHC BACIΛICCHC (Deusa Urânia - Rainha Musa) rodeia a imagem de Musa em drachmas de Ecbátana, (a titelature do drachma de Ray ou Rages também difere um pouco.
A alusão à musa Urânia pode surpreender, mas não é un caso único no mundo oriental nos nossos dias.

A irmã e esposa de Tigranes IV da Armênia, contemporâneo de Musa, identificou-se à musa Erato (musa da poesia românica), e a esposa do rei Bactriana Hermaios, tomou o nome de Calíope. (Esta foi a primeira das nove musas da mitologia grega, filhas de Zeus e Mnemosine).

Quando Vonones I, (também denominado Vonones I de Pártia) filho primogénito de Fraates IV, regressou de Roma (onde passou algum tempo para assegurar a sucessão ((após o reinado efémero de Orodes III)), o seu comportamento manifestamente  ocidentalizado, depressa desiludiu a aristocracia parta que o tinha chamado.

Nas suas moedas o rei é representado com cabelos curtos à moda romana, e uma legenda circular com o seu nome, exatamente como nos denários romanos.  
Mais, ao meter Nike no reverso da moeda, em vez do tradicional rei sentado com um arco na mão, Vonones I se desmarca completamente dos seus antecessores, uma decisão que não teve o sucesso que ele esperava!

Vovones 1 – Drachma cunhado em Ecbátana por cerca de 8-12 a.C.
Anv./-Busto do rei à esquerda de barba afilada e cabelo curto
BAΣIΛΣ ONΩNHΣ
Rev./-Niké à esquerda com uma palma na mão
BAΣIVEYΣ  ONΩNHΣ  NEIKHΣAΣ  APTABAN(ON)
(Ref. Sellwood-60-5, Shore-329

Romanos e Partos continuam a se disputar a Armênia que como Palmira desempenha um rolo principal entre as duas potências.
No ano 59, Cneu Domício “Córbulo” um general do imperador Nero, conseguiu devastar a Armênia, e ali instalou um príncipe para representar Roma.

Vologases que no início concordou, quando finalmente se envolveu no conflito, um acordo inesperado foi concluído entre vologases e Nero.
Foi o imperador Nero que coroou “Tirídates “, irmão de Vologases como rei da Armênia, seguido por um longo período de paz.

Nero – Áureo cunhado em Roma em 64-65
Anv./-Nero laureado à direita
NERO CAESAR AVGVSTVS
Rev./-Templo de Jano (deus representado com dois rostos) com as portas fechadas 
IANVM CLVSIT PACE P R TERRA MARIQ PARTA
(RIC-50, Cohen-114, BMCRE-64, CNB-211, RCTV-1929)

O templo de Jano só fechava as portas em raras ocasiões: “em tempo de paz com o resto do mundo”. As portas eram abertas em tempo de guerra, para que o deus pudessesse sair em socorro dos romanos.
Por ser representado com dois rostos, Jano também era considerado o deus das portas, porque também há duas possibilidades de abrir uma porta.

Entre o reinado de Numa Pompílio (segundo rei lendário de Roma, 715-672 a.C.,) e o reinado de de Augusto, 27 a.C.-14 d.C, as portas só foram fechadas duas vezes e apenas nove em mil anos.

Jano

No ano 114, o imperador Trajano lançou uma nova ofensiva contra os partos.
Começou por invadir a Armênia,depois em 116, depôs Cosroes I e emparou-se de Ctesifonte, a capital Parta.
Há um áureo com a legenda “PARTHIA CAPTA”, um exagero porque Trajano so controlou a Mesopotâmia.

Trajano – Áureo comemorativo cunhado entre fevereiro e setembro do ano 116
Anv./-Trajano laureado à direita
IMP CAES NER TRAIAN OPTIM AVG GER DAC PARTHICO
Rev. Dois cativos em atitude triste, sentados em cima de um escudo entre um troféu de armas composto por um capaceto, couraça, dois escudos e um globo. Em frente de cada prisioneiro um arco e aljava.
Legenda circular PM  TR P COS VI PP SPOR
Por baixo dos prisioneiros a legenda
PARHTIA CAPTA
(Rev. RIC II-325, Calicó-1037, Woytek-560t I var. BNC-864var.)

Os partos fiéis a Cosroes I, reuniram as suas forças contra Trajano que não conseguiu manter a sua posição durante muito tempo.
Antes de ser obrigado a recuar e ali perder a vida, Trajano colocou no trono da Pártia “Partamaspates”um rei fantoche escolhido por Roma.
Um sestércio cunhado cunhado por Trajano no ano116, com a legenda no reverso “REX PARTHIS DATHIS”, faz alusão a este evento).

Trajano – Sestércio cunhado em Roma no ano 116
Anv./-Trajano laureado e drapeado à direita
IMP CAES NERO AVG GER DAC PARTHICO PM COS VI PP
Rev/-Trajano sentado numa plataforma com um militar à sua direita coroando Partamaspates: um parto ajoelhado diante do novo rei.
REX PARTHIS DATHIS  SC
(Ref. RIC-667, Cohen-328, BMC-1046, sEAR-3191)


Partamaspates – Drachma cunhado (possivelmente em Ekbatana) no ano 216
Anv./- Partamaspates à esquerda com a tiara ornamentada com estrelas
Rev./-Arqueiro sentado num trono com um arco; legenda grega ilisível, no campo AΓT
(Ref. Sear-5848, BMC-23,201)

O imperador Trajano preferiu assinar a paz e abandonar as conquistas de Trajano.
A retomada das hostilidades ocorreu em 162, novamente com a Armênia como pretexto.
Vologases IV da Pártia, depois de se ocupar da Arménia invadiu a Síria
Marco Aurélio enviou Lúcio Vero para o Oriente
Entretanto uma epidemia de peste devastou o exército o exército Parta.
Mais uma vez a Ermênia se encontrou sob o domínio romano, e Avidus Cassius (um general de Lúcio Vero), aventurou-se até Ctessifonte que ele submeteu em 165

O imperador Adriano preferiu assinar a paz e abandonar as conquistas de Trajano.
A retomada das hostilidades ocorreu em 162, novamente com a Armênia como protexto
Marco Aurélio enviou Lúcio Vero para o Oriente.
Vologases IV da Pártia, depois de se ocupar da Arménia invadiu a Síria.

Entretanto uma epidemia de peste devastou o exército Parta.
Mais uma vez a Armênia se encontrou sob o domínio romano, e Avidus Cassius (um general de Lúcio Vero), aventurou-se até a Ctessifonte que ele submeteu no ano 165.

Os romanos por sua são afetados pela epidemia da peste quando atacavam medos, e foram obrigados a recuar.
Os partos muito afetados e fracos, resolveram abandonar a parte ocidental da Mesopotâmia aos romanos, Um enésimo tratado de paz foi assinado , e a calma manteve-se até 192.

Embora não tivessem participado pessoalmente nestas operações militares, Lúcio Vero e  Marco Aurélio foram recompensados com os títulos de Armenicus e Parthicus e, para comemorar este evento, um grandioso festejo foi celebrado em Roma em outubro de 166.


Lúcio Vero – Denário cunhado em Roma em 165
Anv./-Lúcio Vero cabeça nua a direita
L VERVS AVG ARM PARTH MAX
Rev./-Parta sentado à direita com as mãos amarradas atrás das costas,  aljava, arco e escudo
TR P V IMP III COS II
(Ref. RIC-514, RSC-274ª)


Marco Aurélio – Áureo cunhado em Roma em 166-167
Anv./-marco Aurélio laureado à direita
M ANTONINVS AVG ARM PARTH MAX
Rev./-Vitória caminhando para a esquerda com uma coroa na mão direita e ima palma na esquerda
TR P XII IMP V COS III
 (Ref. RIC-194, Sear-4871, BMC-471)

No ano 193, Pescênio Níger é proclamado imperador em Antióquia.
Ele tem o apoio das cidades sírias ricas, e obtém a aliança de Vologases V na luta contra Septímio Severo pelo trono romano.
Na verdade, esta aliança continua a ser uma mascarada, Niger foi excluído e Septímio Severo submeteu a Síria.


Vologases V – (191/208), Tetradrchma cunhado em Selêucia ?
Anv./-Vologases à esquerda
Rev./- Tique (ou Tiké) em pé, oferecendo um diadema ao rei sentado num trono
BACIΛEώC BACIΛEώN / APCAKOY OΛOΓACOY / AIKAIOY / EΠIФANOYC
(Ref. Venda CNG 94 Nº 827

Uma vez só a governar, Septímio utilizou o protexto dessa aliança com o seu rival para iniciar uma nova guerra contra os Partos.
Vologases V, ocupado com as brigas internas no seu império, não conseguiu impedir o progresso dos romanos.

Septímio Severo tomou e saqueou Ctesifonte em 198, mas foi obrigado a abandonar a cidade antes da ofensiva parta e, para evitar um combate incerto, foi forçado a restituir prisioneiros e o fruto do saque.


Septímio Severo – Àureo cunhado em Roma, 198-200
Anv./- Septímio laureado e drapeado à direita
L SEPT SEV AVG IMP XI PART MAX ;
Rev./-Vitória com uma grinalda e um troféu avançando para a esquerda: aos seus pés um cativo sentado
VICT P-AR-T-HI-C-AE
(Ref. RIC IV-142b, Cohen-741v)


Septímio Severo e Caracala – Áureo cunhado em Roma 201-202
Anv. Busto de Septímio e Caracala laureados e drapeados
IMPP INVICTI PII AVGG;
Rev. Vitória com uma grinalda e uma palma avançando para a eaquerda
VICTORIA PARTHICA MAXIMA
(Ref. RIC-311, Sear-6516, BMC-265)

Após a morte de Velogases V, os seus dois filhos Velogases VI e Artabano IV, querelam-se pelo poder. Esta nova disputa de sucessão anuncia a agonia da dinastia Arsácida  da Pártia.


Velogases VI (208-228) – Drachma
Anv. Busto do rei à esquerda
Rev./- Rei sentado, com um um arco na mão e legendas ilisíveis
(Ref. Venda Triskeles 9, Nº 42)


Artabano IV – Drachma, reinou de 213 a 224
Anv./- Busto do rei à esquerda
Rev, Rei sentado com um arco na mão, legendas partas ilisíveis
Artabano IV, foi o último rei dos partos da Dinastia Arsácida

No ano 216 Caracala que por sua vez sonha com sucessos fácies, aproveitou a oportunidade para iniciar uma campanha no Oriente.
Para poder entrar na Mesopotâmia com seu exército, Caracala simulou o desejo de selar a paz com os partos, com uma união com a filha de Artabano IV, aliança que este rejeitou.

Nesta contenda Caracala atacou à traição, e Artabano conseguiu escapar à morte, por pouco.
O Estado-Maior Romano para se livrar dum líder abominável e, para se proteger contra a  ira dos Partos, mandou assassinar Caracala e proclamou Macrino imperador.
Após a morte de Caracala, Artabano concluíu  um breve acordo de paz com o seu sucessor Macrino.


Caracala – Antoniniano de prata cunhado em Roma, cerca de 217
Anv./-Caracala com coroa radiada e drapeado à direita
ANTONINVS AVG GERM;
VICT PARTHICA
Rev./-Vitória sentada numa couraça à direita, segurando um escudo com a inscrição VO XX, en duas linhas
(Ref. RIC-314b, RSC-656c)
Artabano IV que esperava uma nova oportunidade. precipitou-se sobre Macrino, e os romanos só limitaram o desastre ao preço de uma capitulação e um pesado tributo.
No entanto, esta desfeita não impediu Macrino de proclamar a sua vitória sobre os Partos no reverso da suas moedas, o que relativiza um pouco a credibilidade da numismática! 


Macrino – Asse cunhado em Roma em 218
Anv./-Macrino laureado e drapeado à direita
IMP CAES  M OPEL SEV MACRINVS AVG
Rev./- Vitória à direita, sentada numa couraça com um escudo na mão esquerda
VICT PARTIE P M TR P  SC
(Ref. RIC-166, Cohen-140, BMC-135)

Para concluir estes conflitos entre romanos e partos, embora cidades importantes como Ctesifonte ou Cêleucia tenham sido várias vezes dominadas pelos romanos, todas as tentativas de se impor no Oriente fracassaram. Mesmo a simples questão da Armênia nunca foi resolvida de mode permanente.

Quanto aos partos, os sucessivos confrontos com os romanos aos poucos arruinaram a economia do Império, favorecendo as disputas dinásticas e minando o poder central em benefício das ambições dos príncipes locais.

Aproveitando a rivalidade entre os sucessores de Velogases V, Artaxes I (224-241), tornou-se mestre da província de Fars (ou Pars,  Perside).
Artabano IV, morreu em combate no ano 224, 3 anos depois Velogases VI foi destronado, facto que  ocasionou o fim da dinastia Arsácida.

MGeada

Bibliografia

André Verstanding; Histoire de l’Empire Parthe, Bruxelles, Le Cri de l’Histoire, édition 2001.
Diáo Cássio, Livro LXVI, capítulo 19.              
Dião Cássio, História Romana. Livro LXXX
Les Parthes; l’histoire d’en empire méconu, rival de Roma, Dossiers d’archéologie nº 271-, mars 2002. 
PlutarcoSula, 5. 3–6 (em inglês)

https://fr.wikipedia.org/wiki/Guerre_parthique_de_Trajan