quinta-feira, 29 de setembro de 2016


O Mito do rapto das Sabinas

Após a fundação da cidade de Roma, a principal peocupação de Rómulo foi povoá-la ; para isso, transformou a cidade num asilo.
Desde então todos os fora da lei da Itália, os banidos, assassinos, e escravos fugitivos encontraram ali refúgio.
Mas, grave problema; a nova cidade carecia de mulheres.
 
Consciente do problema, Rómulo preocupou-se com a sua povoação, e iniciou alguns contatos com as cidades e povos vizinhos, enviando embaixadores para aceitarem a sua aliança e consentirem alguns casamentos entre os dois povos.

Temendo a concorrência duma sociedade rival, as aspirações de Rómulo não tiveram o sucesso esperado. Depois de várias negociaçães  sem sucesso, os romanos decidiram recorrer à astúcia e força. 

Rómulo decidiu então organizar as Ludi Consuales, (Consuálias),  festival  da Roma Antiga celebrado em honra do deus Conso, uma das mais antigas divindades agrárias romanas, que além da festa religiosa também incluía jogos, representações teatrais e corridas de cavalos e mulas).

Convidou então os habitantes das cidades vizinhas : sabinos, ceninenses, crustumerinos, antemnos e outros,  que motivados pela  curiosidade de ver a nova cidade, aderiram em grande número.

Durante o festival, Rómulo deu o sinal combinado aos seus homens indicando que era o momento oportuno de passar ao ato, e estes sequestraram todas as raparigas em idade de casar, assim como as esposas dos seus hóspedes e expulsaram os homens.

O Rapto das Sabinas, Nicolas Poussin, 1637-1638
Museu do Louvre, Paris

Rómulo suplicou as mulheres sequestradas a aceitar os romanos como esposos.
Tratou-as sempre bem, e além de lhes conceder a livre escolha do esposo, também lhes prometeu direitos cívicos e de propriedade.

Falou individualmente com  cada uma, e fez-lhes compreender que a violência  foi originada pelo orgulho dos seus pais e esposos, e à sua recusa de aliar-se por casamentos a um povo vizinho.

É como esposas que ireis compartilhar com os romanos a sua existência, a fortuna, a sua pátria e, unir-vos  com eles pelo enlace que pode aproximar os mortais, tornando-vos as mães dos seus filhos.

As sabinas viveram  felizes  com os romanos,  compartilharam os bens e direitos cívicos dos seus esposos e,  desejo comum a todos os seres humanos, foram mães de homens  e mulheres livres.

A Guerra   

Furiosas pela ultraje dos romanos, as cidades vizinhas decidiram declarar guerra aos romanos e formaram uma coalizão liderada por Titus Tatius (TitoTácio), rei dos sabinos.

O conflito começou por ser favorável a Rómulo e ao seu exército, que numa primeira fase derrotaram os Ceninenses  e mataram o rei. Em seguida venceu os Crustumerinos  e os  Antemnos.
Todavia Rómulo recebeu os povos vencidos na sua cidade, o que permitiu aumentar a população de Roma e ao mesmo tempo reunir as famílias.

Os sabinos e a traição de Tarpeia

Liderados por Tito Tácio os sabinos também entraram em guerra contra Roma, e quase conseguiram conquistar a cidade  devido à traição de Tarpeia, uma Vestale filha de Espúrio Tarpeia governador do Capitólio.

Ao vê-la adornada com jóias, Tácio compreendeu a sua paixão e prometeu-lhe todas as jóias que ela quizesse, se os ajudasse a penetrar na cidadela .
A Vestale  pediu colares de ouro, pedras preciosas, e braceletes  que os sabinos usavam no braço esquerdo, que ela acreditava serem de ouro.

Tácio aceitou a proposta e, à noite quando Tarpeia abriu as portas da cidade (segundo uma das muitas a lenda), Tácio atirou-lhe não só o bracelete de ouro como o escudo.
Como todos os soldados fizeram o mesmo, Tarpéia morreu sob o impacto dos braceletes e enterrada pelos escudos, e para completar o preço da traição, atiraram-na do cimo dum rochedo que ainda hoje é conhecido por Rocha ou Rochedo Tarpeia.

 (Segundo uma versão de Plutarco, Tarpeia seria filha de Tito Tácio, que forçada a viver com Rómulo traíu os romanos por ordem do pai).

LVCIVS TITVRIVS SABINVS, (monetário)
Denário cunhado em Roma em 89 a.C..
Anv. Busto de Titus Tatius (Tito Tácio) à direita,  SABIN.
Rev. Uma Vitória coroando e conduzindo uma biga, L TITVRI

LVCIVS TITVRIVS SABINVS (monetário)
Denário cunhado em Roma em 89 a.C..
Anv. Busto de Titus Tatius à direita,  SABIN.
Rev.Cena ilustrando o Rapto das Sabinas.

LVCIVS TITVRIVS SABINVS (monetário)
Denário cunhado em Roma em 89 a.C..
Anv. Busto de Titus Tatius à direita,  SABIN.
Rev.Tarpéia entre dois soldados sabinos
com escudos aos seus pés,  TITVRI.

Augusto-denário cunhado em Roma em 19/18 a.C..
Anv. Busto de Augusto à direita,
CAES AVGVSTVS.
Rev. Tarpéia enterrada nos escudos até à cinta.
T VRPILIANVS III VIR.

Rocha Tarpeia

Inversão da situação

Rómulo e os romanos reagiram de imediato e comandados por Hostus Hostilius lançaram-se na batalha.
Quando o chefe romano Hostus morreu sob os golpes do adversário, as linhas romanas cederam e recuaram. 

Como a derrota ameaçava, o que seria um desastre, Rómulo implorou Júpiter, tratou-o com um novo nome (Júpiter Ferétrio) e prometeu erigir-lhe um templo no sítio exato onde ele invertesse a tendência da batalha.
A sua súlpica foi ouvida pelo pai dos deuses e os romanos cessaram de recuar.

Foi então que as sabinas por tanto sofrerem com esta guerra  onde combatem os seus pais, irmãos, tios, contra os seus esposos e pais dos seus filhos que nasceram após o seu sequestro, interviram lançando-se no meio da batalha para reconciliar os os dois exércitos.

Intervenção das Sabinas-Jacques-Louis David-1799
Museu do Louvre Paris.

Perante o massacre e para salvar aqueles que amam nos dois campos adversos, as sabinas ao perigo das suas vidas interpuzeram-se com os seus filhos no meio da luta, para que cessassem o combate ao mesmo tempo que diziam.
Se estão cansados destes laços de paternidade, destas obrigações matrimoniais, então voltem a vossa cólera contra nós.
Somos nós a causa desta guerra, somós nós que temos matado e ferido nossos maridos e pais.
Para nós é preferível morrer que viver sem um ou outro, como viúvas ou orfãos. 

Templo de Júpiter Ferétrio
Marcus Claudius Marcellinus cerca de 268-208 a.C..
Denário cunhado em Roma, por cerca de 222 a.C..
Anv. Busto de M. C. Marcellinus à direita,
MARCELILINVS e Tríscele (ou Triskelion)
Rev. M. C. Marcellinus com um troféu e vestido com a toga,
a subir as escadas do templo
MARCELLVS COS QVINT (Consul pela quinta vez)

Reinado de Rómulo e Titus Talius (Tito Tácio)

Após a reconciliação, os sabinos aceitaram formar uma só nação com os romanos, passaram a viver no Capitólio, e Tácio dirigiu Roma conjuntamente com Rómulo até à sua morte, (cinco anos mais tarde).

Acompanhado pelos Céléres (os trezentos cavaleiros da guarda de Rómulo) Rómulo ainda passou muitos anos a lutar contra os vizinhos etruscos das cidades de Veios (Veii ou Veius)  e Fidenas (Fidenae), antes de os obrigar a fazer as pazes com Roma, em troca de alguns territórios.

MGeada

Bibliografia


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Babelon ; Description Des Monnaies de la Republique Romaine, 3 volumes, 1979.
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Grinaldi, Pierre ; Les Villes Romaines, 1990.
Durando, Furio ; Itália Antiga. Grandes Civilizações do Passado, 2006.
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Tive-Live ; Ab urbe condita, 1.9-13
Tive-Live ; Histoire de Romaine, 1,4.
Tive-Live ; La Fondation de Rome, Flammarion, abril 1999.

Pline L’Ancien ; Histoire naturelle, III,69.