quinta-feira, 25 de agosto de 2016


RÓMULO E REMO
O mito das origens de Roma na numismática

Segundo a lenda Rómulo fundou Roma no ano 753ª.C..

Antes de iniciar este trabalho sobre as representações de Rómulo e Remo na numária romana, lembro que muitos autores antigos (por vezes com versões diferentes) evocaram Rómulo e Remo: Virgílio, Cícero, Propércio, Ovídio, Plínio o Antigo, Tive-Live e outros.

É através da literatura principalmente histórica e poética destes autores que conhecemos alguns pormenores sobre a fundação da Cidade Eterna.
É uma das muitas lendas que me proponho divulgar neste estudo.

Uma dessas lendas (talvez a mais célebre) sobre as origens de Roma, foi escrita por Tive-Live (59 a.C.-17d.D.).
Na sua (Ab Urve Condita) História de Roma desde a sua fundação, tudo terá começado por uma ursupação na família real de Alba Longa, em que Numitor foi destronado pelo irmão Amúlio e obrigou a sobrinha Reia Sílvia a servir como Vestale, obrigando-a assim à castidade para que não pudesse ter filhos. “Futuros pretendentes ao trono”.

(Sacerdotisas da deusa romana Vesta; as Vestais deviam conservar o fogo sagrado sempre  aceso. Eram seis e escolhidas entre jovens patrícias, filhas de pais livres.
Gozavam de privilégios especiais mas, se alguma violasse o voto de castidade era sepultada viva no Campo Scelerato).

No entanto segundo a versão de Tive-Live, depois de ser violada pelo deus Marte, Reia Sílvia deu à luz dois gémeos: Rómulo e Remo.


Antonio Pio-Asse cunhado em Roma, 140-144
Anv. Busto de Antonino laureado à direita,
ANTONINVS AVG PIVS PP.
Rev. Marte com capacete lança e escudo, descendo do céu
ao encontro da virgem Vestale Reia Sílvia (adormecida),
TR POT COS  III.

Depois deste miraculoso nascimento, o tio mandou prender a sobrinha e deu ordem aos seus servos para afogarem as crianças no rio Tibre.
Estes não executaram a ordem recebida, meteram as crinças numa cesta que lançaram ao rio e terá encalhado junto ao Monte Palatino.


Domiciano-Denário cunhado em Roma, 81-96
Anv. Busto de Domiciano laureado à direita,
CAEA AVG F DOMITIANVS (legenda invertida).
Rev. Loba à esquerda a amamentar Rómulo e Remo,
e cesta na qual as crianças foram metidas no rio Tibre,
COS V (quinto ano de consulado).

Uma loba que por ali passou e ouviu as crianças a chorar, decidiu levá-las e amamentá-las como se fossem seus filhos.
Mais tarde foram encontrados por um casal de pastores: Fáustulo e a esposa Aca Larência.
Segundo Tive Live, Aca Laurência era prostituta, também conhecida por Lupa a (cortesã).
Os pastores alcunharam-na de “Loba”.
Será esta a origem da lenda que diz Rómulo e Remo serem amamentados por uma loba?


Antonino Pio-Denário cunhado em Roma, 140-144
Anv. Busto de Antonino Pio laureado à direita,
ANTONINVS AVG PIVS PP.
Rev. Loba no Lupercal (uma gruta no Monte Palatino)
a amamentar Rómulo e Remo,
TR POT COS III.


Antonino Pio-Sestércio cunhado em Roma, 140-144
Anv. Busto de Antonino Pio laureado à direita,
ANTONINVS AVG PIVS PP TR P.
Rev. Loba no Lupercal a amamentar Rómulo e Remo,
COS III SC.


Antonino Pio-Centenionalis cunhado em Roma, 140-141
Anv. Busto de Roma com capacete e drapeada à direita,
URBS ROMA.
Rev. Fáustulo e Aca Larência encontram a loba e os gémeos no Lupercal.

(O termo feminino urbs, é uma palavra latina que na antiguidade designava uma vila.
Não confundir com “polis” que designava uma cidade e os territórios contíguos.
Quando escrito com letra maiúscula URBS, designa a vila entre todas as vilas: Roma).

Aquando adultos, Rómulo e Remo decidiram fundar uma cidade,  mas  como gémeos interrogavam-se qual o nome que lhe iriam dar: Rómulo ou Remo?
Como não encontravam um acordo, decidiram que seriam os deuses a escolher.

Nesse momento Remo viu seis abrutes que segundo ele era o sinal esperado.
Rómulo viu doze, sinal mais forte que indica que a nova cidade deve ter o seu nome.
Remo não concordou e saltou por cima da muralha ainda em construção: ultraje que o irmão não apreciou e matou-o.

Finalmente a cidade tomará o nome abreviado de Rómulo: “ROMA”.

Esta versão da história sobre as origens de Roma, é provavelmente a mais célebre.
Outras com bastantes variantes e incertezas existem.

Ovídio nos Fastes escreveu mais ou menos a mesma história que Tive Live, adicionando mais alguns pormenores num dos quais diz, que um pica-pau também colaborou na alimentação dos gémeos ao mesmo tempo que a loba.

Virgílio também evoca o nascimento de Rómulo e Remo e o episódio da loba mas, mais abreviado.
Na sua versão o nome de Reia Sílvia é substituido por Ilia, descendente direta de Heitor.
(Na mitologia grega um príncipe troiano, e um dos maiores guerreiros de Troia).
Sem dúvida que queria por em evidência as origens troianas de Roma.

Sexto Aurélio Victor ca 320 - ca 390 a,C., (historiador e político do Império Romano) também menciona que um pica-pau voou ao encontro das crianças com o bico cheio de comida para os alimentar.
Isto explicaria segundo o mesmo autor, a razão  do lobo e o pica-pau estarem sob a proteção do Deus Marte.

O mito das origens de Roma tal como existe na literatura antiga não é muito credível, porque estes são lendas ou tradições, que procuram pelo meio de alegórias interpretar fenómenos inexplicáveis.
Esta lenda antes de entrar na literatura foi provavelmente uma narração oral: um modo de transmissão das tradições que provoca alterações na verdadeira história.

O mito dá uma explicação às coisas que não a têm, e por isso muitas vezes necessita a intervenção de elementos sobrenaturais.
Rómulo e Remo filhos de Marte, são “provavelmente” segundo Tive Live “certamente” segundo Virgílio) semideuses, que sobreviveram graças à intervenção dum animal selvagem: “a Loba” (por vezes acompanhada por um pica-pau alimentador).

Rómulo um herói dotado de qualidades sobrenaturais que liderou guerras contras alguns povos e cidades vizinhas, não desapareceu deste mundo como um simples mortal.
Segundo Tive Live, un dia em que Rómulo passava em revista o seu exército no Campo de Marte, rebentou uma violenta trovoada acompanhada por uma eclipse do sol, quando Rómulo foi envolvido por uma nuvem e desapareceu.

Felizmente o herói fundador de Roma não partiu sem deixar um rumo a seguir.
Passado pouco tempo um romano “Julius Proculus”, alegou que Rómulo lhe tinha aparecido em sonho, e revelou-lhe que tinha sido raptado pelos deuses.

Ele mesmo se tornou o Deus Quirino (un antigo deus que representava o Estado Romano).
Pediu que lhe erigissem um santuário no Monte Quirinal (uma das sete lendárias colinas de Roma) e deixou-lhe uma mensagem antes de desaparecer.

Vai e anuncia aos romanos a vontade dos deuses: a minha querida Roma será a capital do mundo.
Que a partir de agora eles se iniciem à arte militar, e façam saber aos seus descendentes que nenhuma força humana resistirá ao exército romano.

Não se podia esperar outra coisa do filho do deus da guerra (Marte).


Caio Mêmio-Denário cunhado em Roma em 56 a.C..
Anv. Rómulo laureado com barba e cabelo comprido,
MEMMI CF QVIRINVS.
Rev. Ceres sentada com um archote, três espigas e uma serpente aos seus pés,
MEMMIVS AED CERIALIA PREIMVS.

Já há muito tempo que os historiadores modernos se questionaram quais podiam ser os elementos históricos reais, do mito das origens de Roma.
O primeiro autor antigo a evocá-lo foi Fabius Pictor em 210 a.C., que relata eventos que supostamente ocorreram há mais de cinco séculos.
A data da sua fundação 753 a.C., foi arbitrariamente fixada por Varro no primeiro século a.C..

Na realidade não se conhece a data exata da implementação deste mito das origens de Roma.
Os arqueólogos datam dos séculos X e XI a.C., os primeiros túmulos de incineração encontrados em Roma, que não são mais que restos de cabanas.

Esta visão arqueológica e concebível, desmente o mito da fundação de Roma pelo herói sobrenatural: “Rómulo”.

Motivo da lenda das origens de Roma  representada na numismática romana?

O mito das origens que permite de se situar no tempo, e fazer a ligação com o passado e o futuro, é normal que motivasse algumas representações numismáticas.
Estas imagens são antigas e constantes na numária da República e Império Romano.
Um sestércio cunhado em 217-215 a.C., mostra a loba a amamentar Rómulo e Remo, enquanto cinco séculos mais tarde, o mesmo símbolo aparece numa moeda comemorativa cunhada no reinado de Constantino I, 306-337.


Sextante anónimo cunhado em Roma, 217-215 a.C..
Anv. Loba à direita a amamentar Rómulo e Remo,
dois glóbulos e três espigas.
Rev. Águia à direita com uma flor no bico, dois glóbulos, ROMA.

(Para alguns historiadores não é uma flor que a águia tem no bico, mas comida destinada a Rómulo e Remo; porque a águia é um dos atributos de Júpiter, que também terá ajudado a alimentar os gémeos).

Na maioria dos casos, o mito das origens de Roma, é representado por Rómulo e Remo a serem amamentados pele loba sem outros pormenores.
A loba só, também aparece com alguma frequência.

A questão que se põe é: representa a loba que amamentou Rómulo e Remo?
Ou uma referência à festa da Lupercália que era festejada todos os anos do 13 ao 15 de fevereiro?

Durante este festival os celebrantes reuniam no Lupercal, local onde segundo a lenda Rómulo e Remo foram aleitados pela loba.
(O nome da festa supõe-se derivar de lupus (lobo)).

Excepto alguns casos (raros) a cabeça da loba tal como descrita por Sexto Aurélio Victor e Tive Live, está sempre virada para os gémeos o que indica que se ocupa cuidadosamente deles.


P. Satrienvs-Denário cunhado em Roma 77 a.C..
Anv. cabeça de Marte com capacete à direita,  VTX.
Rev. Loba à esquerda,  ROMA P SATRIE NVS.


Trajano-Quadrante cunhado em Roma, 98-117
Anv. Busto de Trajano laureado à direita,
IMP CAES NERVA TRAIAN AVG.
Rev. Loba à esquerda,  SC.

O mito das origens também faz referência a sítios bem reais: além do Lupercal acima evocado, a Figueira Ruminal situada no Comitium, foi considerado como o lugar exato onde encalhou o berço com as crianças.
Esta árvore muito venerada, segundo Plínio o Antigo era sempre um mau presságio quando secava, por isso os sacerdotes apressavam-se a plantar outra.

A Figueira Ruminal aparece representada num denário de Sexto Pompeio Festo, cunhado no ano 137 a.C..
Na árvore venerada aparecem três pássaros, dos quais o do centro aparenta ser o pica-pau referenciado por Ovídio e Sexto Aurélio Victor.
Quanto aos outros dois, não se sabe exatamente o que eles representam.


Sexto Pompeio Festo-Denário cunhado em Roma, 137 a.C..
Anv. Busto de Roma com capacete à direita,  X
Rev. Pastor, loba a amamentar os gémeos e Figueira Ruminal com três pássaros,
SEX POMP FOSTLVS  ROMA.

Um denário anónimo cunhado em 115-114 a.C., também representa uma composição original onde figuram dois pássaros.
Aqui mais uma vez se desconhece a qual elemento exato, nem a qual versão do mito eles correspondem.
A originialidade desta moeda, é a presença duma alegória de Roma sentada num escudo que contempla Rómulo e Remo a serem amamentados pela loba que, “único fato conhecido é apresentada de costas.


Républica Romana-Denário anónimo Roma, 115-114 a.C..
Anv. Busto de Roma com capacete e colar à direita,  X ROMA.
Rev. Roma com um pau sentada num escudo,
loba “de costas” a amamentar os gémeos e dois pássaros.

O fundador da Cidade Eterna também é representado no reverso dum áureo de Alexandre  Severo, onde ele caminha com um passo decidido com um troféu no ombro e uma lança na mão, tal como seu pai Marte,  numa moeda do imperador Tito. 
Este mesmo tipo também aparece em moedas dos imperadores Antonino Pio e Adriano.


Alexandre Severo-Áureo cunhado em Roma, 230.
Anv. Busto de Alexandre Severo laureado e drapeado à direita.
IMP SEV ALE XAND AVG.
Rev. Rómulo com coroa radiada, vestido de militar com lança,
e troféu no ombro, caminhando para a direita.
P M  TR P  VIII COS IIIP P.


Tito-Sestércio cunhado em Roma, 73
Anv. Busto de Tito laureado à direita,
TI CAESAR VESPASIAN IMP III PON TR POT III COS III
Rev. Marte nu, com lança e troféu no ombro, caminhando para a direita,  SC.


Antonino Pio-Sestércio cunhado em Roma, 140-144.
Anv. COS III.Busto de Antonino laureado à direita,
ANTONINVS AVG PIVS PP TR P.
Rev. Rómulo vestido de militar com lança e troféu no ombro
caminhando para a direita,
ROMVLO AVGVSTO  SC.


Adriano-Denário cunhado em Roma, 134-138.
Anv. Busto de Adriano laureado à direita,
ADIANVS AVG  COS III PP.
Rev. Rómulo vestido de militar com lança e troféu no ombro,
caminhando para a direita,
ROMVLO CONDITORI  (Rómulo o fundador).

A imagem de Rómulo e Remo a serem alimentados pela loba também foi associada a temas tradicionais da numária romana.
Uma moeda de Panormos (Sicília), representa no anverso Jano, (um dos maiores e mais antigos deuses do Panteão Romano), e no reverso a cena clássica da loba com Rómulo e Remo.


Sicília (Panormos) – Asse, cerca de 120 a.C..
Anv. Cabeças opostas de Jano.
Rev. Loba a amamentar Rómulo e Remo, P TE..
(Panormos: nome grego antigo de Palermo)

Num follis de Maxêncio do início do século IV d.C., Rómulo e Remo aparecem juntamento com os Dióscuros (Castor e Pólux): mais uma composição tradicional e muito antiga em moedas romanas.


  
Maxêncio-Follis cunhado em Óstia, 309.
Anv. Busto de Maxêncio laureado à direita,
IMP C MAXENTIVS P F AVG.
Rev. Os Dióscuros de frente, no centro a loba e os gémeos.
AETERNITAS AVG N HOSTT.

É sobre a forma de uma estátua que o símbolo de Roma também foi representado num follis de Maxêncio, onde a loba e os gémeos ornamentam o frontão dum templo tetrástico, no interior do qual a alegória de Roma dá um globo a Maxêncio.


 
Maxêncio-Follis cunhado em Roma, 306-312.
Anv. Busto de Maxêncio laureado à direita,
IMP C MAXENTIVS P F AVG.
Rev. Templo tetrástico: no interior a alegória de Roma
a dar um globo ao imperador, CONSERV VRB SVAE AQP.
No frontão: a loba  e os gémeos.

As imagens da fundação de Roma nas moedas desde as suas origens até ao  século IV d.C., sem serem muito frequentes são diversas.
A imagem da loba com Rómulo e Remo é a mais representada, e podemo-nos interrogar sobre as razões que levaram à emissão destas moedas e, quais foram as fontes de inspiração dos gravadores de cunhos.

Estas alusões às origens de Roma, foi provavelmente a intenção de apresentar uma iconografia que caracterize bem a Cidade Eterna, por isso os gémeos foram objeto de muitas emissões monetárias.
Contudo, este tema continua a ser muito marginal na numária romana antiga, porque durante o período da República, a imagem de Jano ou a cavalgada dos Dióscuros foi representada com mais frequência que a lendária fundação de Roma.

Ainda que tipicamente romano, o tema com Rómulo e Remo também aparece em cunhagens provinciais romanas. Uma possível probalidade das cidades emissoras evidenciarem seja as suas origens romanas, ou o seu compromisso com Roma.


Laodiceia (ou Lataquia) Síria.
Macrino AE 27 cunhado em Laodiceia, 217-218.
Anv. Busto de Macrino laureado à direita,
IMP C M OP SEVE MACRINOS AVG.
Rev. Loba a amamentar Rómulo e Remo,
ROMAE FEL.


Alexandrie de Troade- AE 28, II ou III século d.C..
Anv. Busto da Niké coroado e drapeado à direita,
AV GO TRO.
Rev. Loba a amamentar Rómulo e Remo,
COLOGV TRO.
(Niké ou Nice: deusa grega que personificava a Vitória).


Antioquia da Pisídia
Gordiano III- AE 35 cunhado entre  238-244
Anv. Busto de Gordiano laureado e drapeado à direita,
IMP CAES M ANT GORDIANVS AVG.
Rev. Loba a amamentar Rómulo e Remo,
CAES ANTIOCH COL SR.

Rómulo e Remo enquanto símbolo de Roma, também foram utilizados por Constantino I no século IV, para comemorar a fundação de Constantinopla, “Nova Roma” em emissões monetárias que celebram a antiga e a nova capital do Império.


Constantino I-Follis ou Numos, cunhado na Siscia, 334-335.
Anv. Busto de Constantino com capacete e drapeado à esquerda,
URBS ROMA.
Rev. Loba a amamentar Rómulo e Remo, duas estrelas,
(referência às duas cidades ) ISIS.
(Emissão comemorativa da transferência da capital para constantinopla).

De um modo geral, a imagem das origens de Roma marca perfeitamente um laço com o passado, em que o mito desempenha plenamente o seu papel e constitui um marco no tempo.
Filipe I representou-o numa moeda aquando dos Jogos Seculares.


Filipe I-Antoniniano cunhado em Roma, 248.
Anv. Busto de Filipe com coroa radiada e drapeado à direita,
IMP PHILIPVS AVG.
Rev. Loba a amamentar Rómulo e Remo,
SAECULARES AVGG   II.

No fim do século III início do IV, a recordação das origens nomeadamente por Probo e Maxêncio não deixam dúvidas num período particularmente perturbado, em que é necessário recordar os marcos históricos que na realidade são mitológicos.


Probo- Antoniniano cunhado na Siscia em 280.
Anv. Busto de Probo com couraça e coroa radiada à direita,
IMP C PROBVS PF AVG.
Rev. Loba a amamentar Rómulo e Remo,
ORIGINI AVG XXIT.

Estes temas ilustrados, nomeadamente a loba a aleitar Rómulo e Remo, tranquilizam o povo numa época em que o Império conhece grandes agitações militares, políticas e culturais.


Maxêncio-Argênteo cunhado em Roma, 307-310.
Anv. Busto de Maxêncio de frente, com barba e drapeado,
MAXENTIVS FELICITAS AVG N PH.
Rev. Loba a amamentar Rómulo e Remo,
TEMPORVM FELICITAS AVG PH.

A iconografia monetária do tipo das origens terá tido diferentes fontes.
Antes de alguns autores o escreverem o mito era oral, e os gravadores de cunhos particularmente durante o período da República, representaram nas moedas a versão do mito do qual eles tinham conhecimento.
As imagens criadas por eles são por isso difícies de interpretar.
Tal como na literatura, o mito caracterizado nas moedas também não apresenta uma única versão.


Roma-Didracma anónimo, 296-266 a.C..
Anv. Busto de Hércules com diadema à direita.
Rev. Loba a amamentar Rómulo e Remo,  ROMAN.
(Raríssima com os gémeos nesta posição:
um com o joelho no chão, o outro em pé).

A estatuaria também terá tido um papel muito importante.
Não muito longe da Figueira Ruminal, uma estátua de Rómulo e Remo a serem aleitados pela loba foi erigida no ano 296 a.C., e é provável que tenha influenciado os gravadores dos cunhos que representam a loba e os gémeos.


Bronze etrusco. Loba a amamentar Rómulo e Remo.

Este mito das origens de Roma desapareceu da numária romana no século IV d.C..
Portanto naquela época, esta lenda ainda estava bem ancorada nas crenças do povo.
Quase no fim do século IV, o talentuoso autor da História Augusta por ter grande conhecimento literário, citou muitas vezes Rómulo e Remo.

Neste caso porque motivo deixou de se representar este mito nas moedas?
Duas razões principais explicam este eclipse definitivo de Rómulo e Remo como tema monetário.


Constantino I-Follis ou Numos, cunhado em Constantinopla, 330-340.
Anv. Busto de Constantinopla com capacete e drapeado, com um cetro ao ombro,
CONSTAN  TINOPOLIS.
Rev. Vitória sobre a proa dum navio, com as asas abertas e um cetro,
apoiada num escudo e cristograma.
(Emissão comemorativa da transferência da capital para Constantinopla).

A fundação de Constantinopla (Nova Roma) e a adoção do cristianismo por Constantino, provocou a perda da influência política de Roma e, ao mesmo tempo consequência lógica da sua mitologia.
Por outro lado o mito de Roma de origem pagã, não se pode misturar com a nova religião oficial. 
O "cristianismo".

MGeada

Bibliografia
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Denis D’Halicarnasse ; Les Origines de Rome, traduit et commenté par V. Fromentin et J. Schnabele-2e tirage 2004.
Jean-Luc Bastien ; Le Triomphe Romain et son Utilization Politique. À Rome aux trois derniers siècles de la République, École française de Rome 2007.
Manuel Félix Geada Sousa ; História dos Monumentos Romanos Contada Através das Moedas- Edição Alma Azul, Coimbra/Castelo Branco, julho 2006.
Martin, Thomas R. ; Roma Antiga de Rómulo a Justiniano. L & PM editores
Pierre Grimal ; L’Histoire de Rome : outubro 2003.
Pierre Grimal ; Dictionaire de la Mythologie Grecque e Romaine : setembro 1999.
Pierre Grimal ; Le Dieu Janus et les Origines de Rome : Berg International Editeurs, maio 1999.
Pierre Grimal ; L’Empire Romain : outubro 1993.
(Qui sais-je ?, 216) ; Les Origines de Rome, Paris, 1973, 
Tive Live ; Histoire Romaine I- Les Origines de Rome, Édition de Dominique Briquel-22-11-2007.