segunda-feira, 28 de setembro de 2015


Príapo ou Priapo, deus grego da fertilidade, é um deus itifálico protetor dos produtos agrícolas, uvas, rebanhos, e abelhas.
Na mitologia romana é conhecido por Mutuno Tutuno ou Mutini Titino, em latin, “Mutunus Tutunus ou Mutinus Titinus”.

Augusto-AE 17 cunhado em Lâmpsaco (Mísia), 27 a.C.-14 d.C.
Anv. Augusto laureado à direita
Rev. Príapo Ithyphallic à esquerda
(Ref. RPC I-2274, BMC-79, SNG France-1267)
(O termo Ithyphallic é uma referência aos deuses da fertilidade, sempre representados com o pénis ereto).


Augusto-AE 16 cunhado em Lâmpsaco, 27 a.C.-14 d.C.
Anv, Augusto laureado à direita
Rev. Príapo Ithyphallic à esquerda
(Ref. RPC I-2276, SNG France-1263)

Muito popular na Roma antiga, o deus Príapo é fácilmente reconhecido pelo seu “gigantesco pénis constantemente ereto”, particularidade que deu o nome ao termo médical priapismo.
“Sindroma genital caraterizado por ereções violentas, dolorosas e persistentes, mas que não despertam qualquer desejo sexual, é uma urgência medical que necessita ser tratada”.

Mito

Príapo terá nascido em Lâmpsaco-Mísia, é filho de Zeus e de Afrodite, (outras versões dão-lhe  como pai Hermes, Adónis, ou ainda Dionísio).

Domiciano-AE 15 cunhado em Lâmpsaco em 138
Anv. Domiciano laureado à direita
Rev. Príapo Ithyphallic à esquerda
(Ref. RPC-890, SNG Cop-235, Waddinton-893)

Alguns autores, envelhecem a lenda de algumas gerações e veem em Príapo um titã, ao qual Hera terá confiado a tarefa de ensinar o manejo das armas a Ares, “deus da guerra”.

Noutra versão do mito, Príapo foi punido pelos deuses por ter tentado violar uma deusa  e, como castigo, deram-lhe enormes atributos para que ele nunca mais conhecesse o prazer,  nem a fecundidade.

Antonino Pio-AE 17 cunhado em Lâmpsaco em 138
Anv. Antonino Pio à direita
Rev. Príapo Ithyphallic à esquerda

Existem muitas  lendas  sobre o nascimento de Príapo; provavelmente variantes da versão mais corrente, segundo a qual, o deus terá sido o fruto dos amores clandestinos entre Zeus e Afrodite.

Afrodite não escapou à inveja vingativa de Hera,  “esposa legítima de Zeus”, porque a deformidade sexual do filho seria devido à malevolência de Hera, com ciúmes da deusa do amor. 

Septímio Severo- AE 26, cunhado em Lâmpsacos 193-211
Anv. Septímio Severo laureado à direita
Rev. Templo de Príapo (em Lâmpsaco), com a sua estátua no interior. 
(Ref. Classifical Numismatique Group, venda eletrónica lote n.168)

Quando Afrodite estava prestes a dar à luz, Hera acorreu e colocou-lhe a mão no ventre.
O resultado foi que Afrodite  deu à luz um ser de aparência repulsiva, com uma língua e uma barriga enormes.

Septímio Severo-AE 17, cunhado em Nicopolis (Moesia inferior) 193-211
Anv. Septímio laureado à direita
Rev. Príapo Ithyphallic à direita
(Ref. Sear 5-238, Crawford-341/1- Syd-69)

Terrorisada, a deusa abandonou o récem-nascido.
Este foi acolhido por pastores que apreciaram a sua robustez; mais tarde, Príapo juntou-se ao cortejo de Dionísio.

Outra versão, faz de Príapo filho de Dionísio e de Afrodite, enquanto outra lhe atribui como pai o deus  Adónis.
Segundo esta lenda, Afrodite terá aproveitado uma viagem que o seu esposo fez ao Olimpo para ter relações sexuais com Adónis.

Septímio Severo-AE 21, cunhado em Nicopolis, 193-211
Anv. Septímio laureado à direita
Rev. Príapro Ithyphallic à esquerda
(Ref. AMNG I-1380, Mouchmov-987, Varbanov-1789)

Após o regresso de Dionísio e, depois de lhe dar as boas vindas, Afrodite fugiu para Lâmpsaco, onde depois da intervenção de Hera, deu à luz uma criança da qual ela não pode suportar a visão.
Uma outra versão sobre Príapo, diz-nos ser filho de Dionísio e da Náiade Quione. 

Júlia Domna-AE 26, cunhado em Nicoplolis, 193-217
Anv. Júlia Domna à direita
Rev.  Príapro Ithyphallic à direita
(Ref.Moushmov-1052, Varbanov 288-289)

Príapo que detestava os burros, pediu  para os sacrificarem durante as cerimónias no seu culto.
A sua antipatia por este animal vem do fato (segundo Ovídio) que uma noite quando se preparava para violar  Héstia, a deusa foi advertida pelo zurrar de um burro e, assim conseguiu escapar ao ardor de Príapo.

Esta aventura confunde-se com outra de uma época mais recente que segundo Ovídio, (Metamorfoses e Fastes) o deus teve uma relação com a ninfa Náiade Lotis que recorda a lenda de Pã Sírinx.
No nomento em que Príapo acredita ter atingido o seu objetivo, Lotis metamorfoseou-se na  árvore que ainda hoje tem o seu nome, o “lótus”.

Eleogábalo-AE 18, cunhado em Nicopolis,208-222
Anv. Eleogábalo laureado à direita
Rev. Príapro Ithyphallic à esquerda
(Ref. Varbanov-3811, AMNG-2022)

Outra lenda diz-nos que a tentativa do deus falhou, porque no momento em que ia violentar a ninfa, esta foi advertida pelo zurrar do buro de Sileno, que permitiu a Lotis de fugir.
Furioso Príapo matou o animal que tinha frustrado os seus planos.
(Sileno: na mitologia grega e romana, era um dos seguidores e fiel companheiro de Dionísio)

Maximino Trácio-AE 24 cunhado em Lâmpsaco, 235-238
Anv. Maximino laureado à direita
Rev. Príapo Ithyphallic à esquerda

Outra versão diferente nos é dada pelo seu ódio para com os  equídeos.
Ela tem por origem uma briga com um burro que Dionísio cavalgou durante muito tempo e ao qual ele concedeu o dom de falar.

Em causa estava o respectivo tamanho do pénis.
Príapo comparou o seu orgão sexual com o do burro e, depois de ver o tamanho dos seus atributos (superior aos seus) matou-o.

Trajano Décio-AE 21, cunhado em Lâmpsaco, 249-251
Anv. Trajano laureado à direita
Rev. Príapo Ithyphallic à esquerda


O deus protetor dos produtos agrícolas, uvas, rebanhos, e abelhas, matou o burro que Dionísio venerava e que este depois colocou entre as estrelas.

É difícil compreender qual a base deste mito.
Sabemos que em Lâmpsaco sacrificavam-se burros em louvor do deus Príapo, enquanto para a festa de Héstia os burros eram coroados com flores!

MGeada

Bibliografia
Michel Foucaud; História da Sexualidade. 3 vol. Rio de Janeiro, Graal, 1988
Philipe Morel; Priape à la Renaissance : Les guirlandes de Giovanni da Udine à la Farnésine, Revue de l’Art, 69, 1985, 13-28.
Cyril Dumas et David Furdos ; Priape entre lévocation et superstition, Dossiers d’arqueologie, n. H.S. 22, avril 2012, p, 36-41.
http://www.asiaminorcoins.com/gallery/thumbnails.php?album=104