quinta-feira, 27 de agosto de 2015


Império Romano
Reinados dos imperadores africanos e sírios, 192 a 235

Cunhagens da dinastia dos Severos

Pertinax (Publius Helvius Pertinax) - Filho de escravo liberto, nasceu em Alba Pompeia no dia 1 de agosto de 126, e faleceu em Roma em 28 de março 193.
Casou com Flávia Ticiana por cerca do ano 180 e tiveram dois filhos. Públio Hélvio Pertinax, e uma filha de nome desconhecido.

Após  uma brilhante carreira militar,  em 188 e 189 exerceu a função de procônsul da prestigiosa província da África, e prefeito de Roma de 190 a 192.

Exercia o cargo de prefeito urbano quando no dia 31 de dezembro de 192, o seu amigo imperador Cómodo foi assassinado.

Proclamado imperador na manhã seguinte  ao assassínio de Cómodo (1 de janeiro 193), as suas reformas não agradaram ao povo, particularmente à guarda pretoriana.

No dia 28 de março de 193, (após um reinado de 86 dias), um grupo de soldados descontentes por terem recebido apenas a metade do pagamento prometido, invadiram o palácio e mataram o imperador, dando início à crise que ficou conhecida como “o ano dos cinco imperadores”.

Soberbo e raro sestércio de Pertinax cunhado entre 1 de janeiro e 28 de março do ano 193
OPI DIVIN TR P COS II   S C
(RIC-20, Sear-4054)

Flávia Ticiana
Pertinax, AE25 cunhado no Egito entre 1 de janeiro e 28 de março de 193
TITIANH CEBCTH
(Ref.GIC-2106)

Didio Juliano (Salvius Julianus Severus Didius Marcus) nasceu na província da África a 30 de janeiro de 133 ou 2 de fevereiro de 137 (há divergências).

Filho de rica e importante família de Mediolano (atual Milão), e apesar da sua mãe Domícia Lucila ser parente do famoso advogado Sálvio Juliano, atuante no reinado de Adriano, Didio foi criado na família da mãe do imperador Marco Aurélio.
Teve uma carreira importante na administração imperial.
Pretor na Belgica, cônsul por cerca do ano 175, e governador na Ilíria e na Germânia Inferior.

Ao ter conhecimento da morte de Pertinax e como candidato ao trono imperial, Didio foi ao quartel da guarda pretoriana e, ofereceu aos soldados uma enorme quantia de dinheiro, para obter a sua fidelidade.

Casou com Mânlia Escantila por volta do ano 153, tiveram uma filha, Didia Clara.
Reinou de 28 de março a 1 de junho de 193, dia em que foi assassinado em Roma com 60 anos.

Áureo de Didio Juliano cunhado em Roma entre março e junho de 193
RECTOR ORBIS (governador do mundo)
(Ref. RIC 3, Sear5-6071, Cohen-14)

Sestércio  de Dídio Juliano cunhado em Roma entre março e junho de  193
CONCORD/IA  MILIT/VM (armonia entre os militares)
(Ref. RIC IV-14, Sear- 6072)

 Manlia Scantilla, áureo cunhado em Roma 193
YUNO REGINA
(Ref. RIC VII-4, BMCRE-10, Sear5-6081)

Didia Clara, sestércio cunhado em Roma em 193
HILAR TEMPOR  S C
(Ref. RIC IV-20, Sear-608

Caio Pescênio Níger (Gaius Pescennius Niger), filho de uma tradicional família equestre italiana, nasceu em Aquino (região do Lácio) entre 135 e 140.
Imperador romano ursupador, de 9 de abril 193 até maio de 194.

Derrotado por Cornélio Anulino, (um dos generais de Septímio Severo) na Batalha de Isso em maio de 194, foi preso e decapitado quando tentava fugir  para Pártia.
A sua cabeça foi enviada para Roma onde foi exibida perante o povo.

Denário de Caio Pescénio cunhado em Antioquia em 193-194
FORTVNAE  RED/VCI
(Ref. RIC-25var., Cohen-24)

Pescénio, denário cunhado em Antioquia 193-194
INVICTO IMPERAT (invencível imperador)
(Ref. RIC IV-40, RSC-38v)

Clódio Albino (Decimus Clodius Septimius Albinus), recebeu o cognome de Albinus por causa da brancura excepcional da sua pele.

Filho de família aristocrática romana, nasceu por cerca do ano 150 em Hadrumeto na província da África (atual Sousse na Tunísia).
Cônsul em 194 com Septímio Severo, proclamou-se imperador no outono de 196, cargo que ocupou até 19 de fevereiro de 197.
Depois da derrotado na batalha de Lugduno (Lião França), terá cometido suicídio ou foi capturado e executado, assim como sua esposa e filhos.
Os cadáveres foram atirados para o rio Reno, exceto a cabeça de Clódio que foi envida para Roma.

Clódio Albino, denário cunhado em Roma em 194
MINER PACIF COS III (Minerva Pacífica)
(Ref. RIC-7, BMC-96)

Septímio Severo (Lucius Septimius Severus Pertinax), nasceu em Léptis Magna (Líbia) no ano 146, faleceu em combate na Britânia em 211.

De origem púnica e berbere, foi o primeiro imperador provincial sem ascendência romana a conquistar o trono imperial.
Depois de uma brilhante carreira militar sob os reinados de Marco Aurélio e Cómodo, foi nomeado cônsul sufecto em 185.

Aclamado imperador a 13 de abril de 193, começou por eliminar Didio Juliano seu compatriota, associou ao poder Clódio Albino como César, antes de combater e executar Caio Pescénio no Oriente.
No ano 197, livrou-se do seu último oponente Clódio Albino que se tinha proclamado Augusto.

Só então Severo começou a preparar o estabelecimento da sua dinastia, ao atribuir no ano 194 o título de Augusta à sua esposa Júlia Domna, e os títulos de César a Caracala em 196 e Augusto em 198, data em que Geta seu segundo filho também recebeu o título de César.

O imperador passou quinze anos a consolidar as fronteiras do império, alcançando muitas vitórias sobre os partos em 197/8, em seguida na África em 207, e finalmente na Britânia em 208, onde faleceu.
Severo foi divinizado pelo Senado após a sua morte.
(Cônsul sufecto (suplento): cônsul eleito para substituir outro cônsul falecido antes da expiração do seu mandato).

Áureo de Septímio Severo cunhado em Roma entre 201 e 210
VICTORIAE  AVGG
(Ref. RIC-299, BMC-369, Cohen-712)

Septímio Severo, Áureo cunhado em Roma em 200-201
IVLIA AVGVSTA
(Ref. RIC-161b, BMCRE-192)

Denário de Septímio Severo cunhado na Itália em 193
LEG I ITAL TR P COS (primeira legião itália)
Águia legionária entre duas insígnias
(Ref. RIC IV-3, BMCRE-pg.2, RSC-256)

Júlia Domna,  nasceu no ano 170 em Emesa (Síria) e faleceu em Emesa no ano 217.
Filha do sumo-sacerdote de Bal, Caio Júlio Bassiano, casou com Septímio Severo no ano 187.

O casal teve dois filhos: Caracala em 188 e Geta em 189.
Júlia foi exilada para Emesa pelo imperador Macrino, onde terá cometido suicídio, ou falecido com um crancro da mama.

Júlia Domna, sestércio cunhado em Roma em 198
MATER DEUM S C (Mãe dos Deuses)
(Cibelele, designada como Mãe dos Deuses ou Deusa Mãe, sentada num trono com um ramo ma mão direita).
(Ref. RIC-859, BMC-772v, Cohen-124)

Áureo de Júlia Domna cunhado em Roma em 201
AETERNIT IMPERI
(Bustos de Caracala laureado e Geta cabeça nua)
(Ref. RIC-540, Sear-6517, Calico-2653)


Denário de Júlia Domna cunhado em Roma em 201
SAECVLI FELICITAS
(Isis segurando Horus ao colo)
(Ref. RIC-577, RSC-174)

Caracala (Marcus Aurelius Antoninus), nasceu no dia 4 de abril de 188 perto de Lião (França).
Compartilhou o poder com seu pai, Septímio Severo  e com o seu irmão Geta a partir do ano 208, até à morte do pai  em 4 de fevereiro de 211.
Co-imperador com seu irmão Geta até dia 26 de dezembro de 211.
Imperador de 26 dezembro de 211 até  8 de abril de 217, data em que foi assassinado na Mesopotâmia.

Denário de Caracala cunhado em Roma em 197
IMPERI  FELICITAS
(Felicitas com caduceu e uma criança ao colo).
(Ref. RIC-9, RSC-95, Sear5-6674).

Geta (Lucius Publius Septimius Geta), nasceu no dia 7 de março de 189 em Roma,
Compartilhou o poder com  seu pai Septímio Severo e com o irmão Caracala a partir do ano 208 até à morte do pai  em 4 de fevereiro 211.
Co-imperador com o irmão até 26 de dezembro 211, dia em que foi assassinado  por ordem do irmão, "ou pelo irmão".
(Algumas fontes revelam que foi assassinado pelo próprio irmão quando Geta procurava refúgio nos braços da mãe).

Geta, denário cunhado em Roma em 198-200
TEM/POR  FELI/CITAS
(Ref. RIC 22v, RSC-196a)

Macrino, (Marcus Severus Opellius Macrinus).
Nasceu no ano 164 ou 165 em Cesareia (Mauritânia Cesariense), e faleceu em Capadócia em junho de 218.

Mais um africano que a fortuna elevou ao trono imperial.
Advogado e mais tarde prefeito do pretório do imperador Caracala, proclamou-se imperador no dia 14 de setembro do ano 217, após ter assassinado Caracala durante a campanha contra os partos.

Derrotado numa batalha perto de Antioquia, o imperador foi assassinado quando tentava fugir.
"Caso invulgar; Macrino nunca esteve em Roma".

Denário de Macrino cunhado em ? no ano 217
PONTIF MAX TR P COS PP
(Ref. RIC-24, Sear-7347,RSC-62)

Diadumeniano (Marcus Opellius Antonius Diadumenianus), nasceu a 14 de setembro de 208, e faleceu em Antioquia no dia 8 de junho de 218.

Após a proclamação de Eliogábalo em maio de 217, Macrino concedeu ao filho os títulos de César e Príncipe da Juventude no ano 217, e Augusto em 218.
Reinaram juntos mas, por um curto período.

Derrotados na batalha de Antioquia em 4 de junho de 218, Macrino e Diadumeniano fugiram.
Este último (ainda criança,"10 anos") foi preso e morto, quando tentava atravessar o rio Eufrates para se aliar aos partos.


Denário de Diadumeniano (como César) cunhado em Roma,  maio ou junho de 217
PRINCIPI IVVENTVTIS
(Ref. RIC IV-104)

Heliogábalo, (Sextus Varius Avitus Bassianus), nasceu em Emesa (Síria) por cerca do ano 203.
Como imperador adotou o nome de Marco Aurélio António (Marcus Aurelius Antoninus).
O seu nome verdadeiro nome era  Sexto Vário Avito Bassiano,  só após a sua morte recebeu o cognome de Heliogábalo.

Sobrinho de Caracala, ainda jovem graças à sua formosura foi eleito sumo sacerdote do culto de Ball, "deus associado ao Sol" na Síria e na Fenícia.
É por causa deste culto monetista do Sol que a palavra Helio faz parte do seu nome.

Aclamado imperador pelas tropas na Síria, a sua vitória sobre Macrino fez dele o líder incontestavel de Roma até à sua morte em 222.

Esta subida ao poder deve-a às intrigas da sua mãe Júlia Soémia, e sua avó Júlia Mesa, que para convencer as tropas afirmaram que Heliogábalo era filho do grande Caracala. 

Esta estratégia funcionou e praticamente são elas que vão governar o Império, (sobretudo a avó).
Tirano e capricioso, logo de início mostrou sinais de desequilíbrio mental e, as suas estravagâncias que escandalizaram Roma, rapidamente esvaziaram os cofres do estado.

Durante o seu reinado "e de Júlia Mesa", a morte fazia parte do quotidiano romano, e quem fosse contra este duo era eliminado.
Muitos aristrocatas romanos compreenderam-no demasiado tarde,  pagaram o seu desacordo com a vida.

A causa da morte deste duo infernal "Heliogábalo" e "Júlia Mesa", está ligada à sucessão.
Heliogábalo adotou Alexandre Severo para lhe suceder.
Todavia o povo que adorava o jovem Alexandre queria que ele governasse Roma, o que para Heliogábalo e Júlia Mesa fazia dele um adverssário a eliminar. 

O plano fracassou; o povo exasperado rebeliou-se, e os dois comparsas foram espancados e arrastados pelas ruas de Roma. 
O povo tentou atirar os cadáveres ao esgosto, mas como as condutas eram estreitas, finalmente foram atirados ao rio Tibre sem qualquer forma de processo.
Heliogábalo contava então 18 anos.

Heliogábalo, sestércio cunhado em Roma no ano 220
P M TR P III COS III P P S C
(O Sol nu caminhando para a esquerda)
(Ref. RIC IV-300, BMC-426, Cohen-156)


Júlia Maesa, denário cunhado em Roma 220-223
SAECVLI FELICITAS
(Ref. RIC IV-271, Sear5-7755)


Denário de Júlia Soémia cunhado em Roma em 222
VENVS CAELESTIS
(Ref. RIC.241, Sear-7719)


Alexandre Severo (Marcus Aurelius Severus Alexandrus), filho de Júlia Ávita Mameia e de Marco Júlio Géssio Marciano, um procurador de origem síria, nasceu no ano 208 em Cesareia (da Fenícia).

Adotado pelo seu primo Eleogábalo no dia 10 de maio de 211, quando este faleceu, foi Alexandre Severo que lhe sucedeu mas, durante todo o seu reinado ficou sob a infuência da sua mãe Júlia Mameia.

Bem intencionado; reinou de 222 a 235, mas sem apoio político e militar, morreu assassinado durante o motim da XXII Legio Primigenia (vigésima segunda legião) instaurada pelo imperador Calígula no ano 39.

Medalha de Alexandre Severo e Júlia Mameia cunhado no ano 231
FIDES MILITVM
Ao centro, Alexandre oferecendo um sacrifício, e a ser coroado por Marte,
À direita Júpiter nu com raio e um cetro
(Ref. BMC-734, Gnecchi II, p. 84,4)

Alexandre Severo denário cunhado em Roma em 231
PROFECTIO AVGVSTI
(Ref. RIC IV-596, BMCRE-748, Cohen,492, Sear RCV II, 8012)



Júlia Mameia (mãe de Alexandre), quinário cunhado em Roma em 230
FELICITAS PVBLICA
(Ref. RIC-339, BMC-660)


Orbiana (sua esposa), denário cunhado em Roma 226-227
CONCORDIA AVGG
(Ref. RIC IV-319, BMC-827)

Assim terminou a dinastia dos Severos
Sucedeu-lhe o chamado período da “anarquia militar” 235-268, em que o Império romano sofreu a primeira grande crise da sua história, e pôs fim à dinastia dos Severos.

Durante 33 anos sucederam-se oito imperadores legítimos, e pelo menos mais nove ursupadores.
No entanto a maioria não excedeu um ano de reinado.

MGeada

Bibliografia
Anne Daguet-Gagey ; Septime Severe, éditions Pyot, 2000.
Christol, M & Nony, D ; Rome et son Empire, éditions Hachette Paris, 2003.
Claude Briand-Ponsart, L’Afrique Romaine de Atlântique  a la Tripolitaine, 146 a.C., 533 d.C. , colection U, Paris 2005.
Dião Cássio; História de Roma, livro 79,20.
François Zosso et Christien Zingg; les Empereurs Romains, édition Errance, 1995.
Gibbon Edward; Declínio e queda do Império Romano, edição abreviada, São Paulo círculo do livro, 1989.
Macmulle, Ramsay; Le Declin de Rome et la Corruption du Povoir, Paris, Les Belles lettres, 1991.
Marcel Le Glay, Yvan Le Bohec, Jean-Luis Voisin ; Histoire Romaine, 07-2011.
Paul Petit ; Histoire Général de l’Empire Romain, éditions du Seuil, 1974.