segunda-feira, 27 de julho de 2015


Pôncio Pilatos
O magistrado que se lavou as mãos aquando do julgamento de Jesus de Nazaré, que sem a bíblia teria ficado anónimo.
(A lavagem das mãos era um costume judaico (não romano) pelo qual se expressava a sua não participação a um derramento de sangue).

Pôncio Pilatos (em latin Pontius Pilatus), terá nascido no fim do I século a.C. num local desconhecido na Itália ou em Lugduno (Lião), seria filho dum espanhol, e terá falecido por volta do ano 39, no início do reinado de Calígula em Viena (Gália) ou Lucerna (Suíça).

Aqui começamos a entrar no reino da lenda, porque na verdade pouco se sabe sobre este personagem, que foi prefeito (praefectus)  e não procurador da Judeia e condenou  Jesus de Nazaré: o resto permanecem suposições e lendas.

A maioria do mundo cristão só conhece Pôncio Pilatos pelo seu papel no julgamento e crucificação de Jesus Cristo.

Geralmente é representado como o principal defensor do Galileu nas suas últimas horas, mas uma análise de outros documentos da vida de Pilatos, completa a história fragmentária do Novo Testamento.
Com essas outras escrituras, apercebemo-nos que Pilatos era um homem cruel e sanguinário, que exterminou muita gente.

Cidadão romano e membro da classe equestre; a partir do ano 26 d.C., sob o reinado de Tibério ocupou durante doze anos o cargo de prefeito da Judeia, antes de ser enviado a Roma no fim do ano 36, princípio de 37, pelo procônsul da Síria Lucius Vitelius, para que explique ao imperador o motivo da sua mau  administração.
A partir dessa data a história não fala mais nele.

Ao contrário dos seus antecessores que sempre residiram em Jerusalém, Pilatos  estabeleceu a sua residência principal em Cesareia Marítima; na época a principal cidade da Judeia romanizada,  e lugar mais tranquilo que a capital dos judeus, da qual o poder era representado pela Fortaleza Antônia, fortificação adjacente ao templo.

Esta fortaleza “praça-forte”, foi construída por Herodes o Grande em Jerusalém, cujo nome  homenageava o triúnviro romano Marco António, protetor de Herodes.

Jerusalém, reinado de Tibério
Ponce Pilatos, Prutá cunhado em  29-30
Anv. Simpulum, TIBEPIOY KAICAPOC LIS
Rev. Três espigas de cevada, IOYɅIA KAICAPOC
(Júlia, César) Ref. à mãe de Tibério.
(Ref. Hendi 648) 
(Simpulum (concha): era utilizada durante as “libações” : cerimónia religiosa entre os pagãos, que consistia em provar vinho e entorná-lo sobre a ara do sacrifício em honra de uma divindade).

Outra coisa que sabemos de Pilatos, é que o imperador Tibério não o apreciava muito  pela mau administração do seu governo, e  ser um personagem arrogante, inflexível, mas ativo  e astuto.

Finalmente um massacre foi a origem da sua decadência.
Pilatos foi acusado pelos membros do Conselho dos Samaritanos, por estar envolvido num horroso morticínio, que nos é comentado por Flávio Josefo.

«Os Samaritanos também participaram em algumas agitações,  excitados por um homem que não considerava grave mentir, e que combinava tudo para agradar ao povo.

No ano 35 Pilatos convidou-os  a subir com ele ao Monte Gerizim, considerado por eles o monte mais sagrado, e disse-lhes que uma vez no cimo, lhes iria mostrar vasos sagrados que Moisés ali tinha enterrado para os preservar.

Confiantes nas palavras de Pilatos, os judeus tomaram as armas e instalaram-se numa aldeia chamada Tirathana, juntaram-se aos habitantes para juntos iniciarem a subida ao monte.

Pilatos apressou-se a ocupar anticipadamente a estrada, enviando cavaleiros e a infantaria
que ao seu sinal massacraram muitos, outros fugiram, fizeram muitos cativos que julgados por Pilatos foram condenados à morte, assim como os fugitivos mais influentes.

Após este massacre. o Conselho dos Samaritanos  pediu audiência a Vitelius (Vitélio), personagem consular governador da Síria, e acusaram Pilatos de massacrar muitas  pessoas,  explicando  que não foi para conspirar contra Roma que eles se reuniram em Tirathana, mas sob as ordens do prefeito Pilatos.

Depois de enviar um dos seus amigos, Marcellus,  para se ocupar dos judeus, Vitellius ordenou a Pilatos que fosse a Roma explicar ao imperador o porquê das acusações dos judeus.

Após doze anos de permanência na Judeia Pilatos apressou-se a ir para Roma   obedecendo às ordens de Vitellius, às quais ele não se podia opor.»

Jerusalém- reinado de Tibério
Ponce Pilatos-Prutá, cunhado em 26-36
Anv. Simpulum (concha) TIBEPIOY KAICAPOC
Rev. LIZ no interior duma coroa de louro.
(Ref. Hendin 649)


Foi ao imperador Calígula grande amigo dos príncipes da Palestina que na época governava o império,  que Pilatos tentou justificar o seu horrível ato.

Depois de julgado foi exilado para Viena (Gália) aonde terá cometido suicídio ou foi executado.
Uma cadeia de montanhas “Monte Pilat” terá o seu nome para recordar este acontecimento.
Outra versão diz-nos que Pilatos faleceu em Roma, e o seu corpo atirado ao rio Tibre.

Todavia um grande mistério persiste: o seu cadáver terá reaparecido em Lucerna (Suíça) e foi sepultado no sopé do monte Pilatus, montanha com vista para a cidade.

Para continuar esta história  lendária, diz-se que Pilatos converteu-se ao cristianismo, e morreu mártir da sua nova religião.
De fato a igreja Ortodoxa Copta fez um santo assim como sua esposa, mas só a esposa é adorada.

Tertuliano (um dos pais da igreja. 150-230), fez um cristão já no fim da sua vida.
Ele terá tido conhecimento duma carta de Pôncio Pilates a Tibério, na qual ele tentava explicar o processo de Jesus de Nazaré.

Um relatório existente sobre a crucificação de Cristo, é um tema muitas vezes evocado na leitura da história do Baixo Império.
Segundo Daniel-Rops no seu livro    Jésus en son temps (Jesus no seu tempo), ela só terá sido citada no evangelho apócrifico de Nicodemos?
(Apócrifo : diz-se de um texto ou de um livro, cuja autenticidade é duvidosa ou suspeita, ou não ser reconhecida pelo magistério eclesiástico).
(Nicodemos foi um fariseu e contemporâneo de Jesus Cristo. Defendeu-o perante o Sinédrio e sepultou-o.
Atribuem-lhe um evangelho apócrifo, outrora chamado de Atos de Pilatos)

Quem era a esposa de Pilatos?
Além de ser mencionada nos evangelhos canónicos, o que sabemos sobre ela?
Segundo a lenda, chamava-se Cláudia Prócula e seria descendente duma grande linhagem.
Diz-se, mas é muito duvidoso que era neta do imperador Augusto, (segundo Daniel Rops), ou sua bisneta (segundo Macrobio).  

Jerusalém-reinado de Tibério
Pôncio Pilatos-Prutá cunhado em 26-36
Anv. Simplum,  TIBEPIOY KAICAPOC
Rev. LIH no interior duma coroa de louro
(Ref. Hendin 650)

Acredita-se que era  efetivamente descendente duma família nobre, porque um magistrado romano não podia levar a esposa para a província que Roma lhe atribuísse para  governar.
Todavia Pôncio Pilates levou Cláudia Prócula com ele para Judeia.

Que mais dizer sobre Pilatos?
Sabemos que veio da classe equestre; foi o quinto prefeito da Judeia; e segundo Flávio Josefo só exerceu este cargo durante 10 anos.

Assim que chegou à judeia, Pilatos  foi contra os costumes judaicos introduzindo o retrato do imperador em todas as instituições, e "grande escândalo" confiscou o tesouro do templo para financiar a construção dum aqueduto para levar água para Jerusalém.

Pilatos o enviado de Tibério, introduziu durante a noite em Jerusalém  imagens e estandartes com efígies de César (Tibério) cobertas com um véu.

Ao romper o dia, o espetáculo causou grande agitação entre os judeus que ficaram  indignados, vendo neste ato uma violação das suas leis, que não permitem expor nenhuma imagem na cidade.
A revolta do povo de Jerusalém foi comunicada a toda a comunidade que acorreu de todos os lados.

Os judeus manisfestaram contra Pilatos em Cesareia, pedindo para retirar as imagem de Jerusalém e manter as leis dos seus antepassados.
Como Pilatos se recusou, eles acamparam em torno da sua casa, e ali permaneceram durante cinco dias e cinco noites.

No sexto dia Pilatos sentado no seu tribunal (no grande estádio), sob o pretexto de lhe responder convocou o  povo.
Foi então que ele deu o sinal combinado aos soldados armados para cercar os judeus.

Ao verem as tropas os judeus ficaram atemorizados perante este procedimento imprevisto.
Depois de declarar que os mandava matar se eles não aceitassem as imagens de César, Pilatos deu ordem aos  soldados para desembainhar as espadas.

Os judeus num acordo comum, atiraram-se ao chão, estenderam o pescoço declarando preferir morrer que violar a lei.
Surpreendido  perante tanto zelo religioso, Pilatos consentiu que se retirassem imediatamente todas as efígies e estandartes de Tibério em Jerusalém.



Fragmento de rocha com uma inscrição que menciona PONTIVS PILATVS

Passado algum tempo, levantou outro motim ao confiscar o tesouro do templo para a construção de um aqueduto com a dimensão de 400 estádios, para levar água a Jerusalém.
Perante tão grande sacrilégio o povo indignado juntou-se em redor do tribunal de Pilatos que então se encontrava  em Jerusalém.
(Estádio: (unidade) adotado por escritores romanos, varia segundo o autor.
Alguns adotaram um estádio de 600 pés: o pé romano era 1/25 menor que o pé grego.
Segundo Daniel Engels. o estádio romano media 185m.

Pilatos que tinha previsto esta revolta, teve o cuidado de misturar à multidão soldados armados vestidos com roupas civis,  proibiu-os de usar a  espada, mas tinham ordem de se servirem do cajado.
Do alto do seu tribunal Pilatos deu o sinal combinado do ataque.
Grande número de  judeus foram massacrados, outros ao tentarem fugir esmagaram-se mutuamente. 
A multidão romana apavorada com este massacre, permaneceu silenciosa.

Pilatos desapareceu sem deixar rasto na história.
Foi apenas um dos muitos funcionários romanos, mas que ficou conhecido como um dos protagonistas  da morte de Jesus de Nazaré.
Sem a bíblia Pilatos teria permanecido anónimo.

MGeada

Bibliografia
Jean Pierre Lémonon ; Ponce Pilate » 1981, réédité en 2007
Daniel-Rops ; Jésus en son temps- èditions Cerf. 1 de setembro 1976
Flávio Josefo livro I, capítulo IX, 2 a 4.
Bernet Anne ; Mémoires de Ponce Pilate- Éditions Plomb, Paris, agosto 1998

http://www.universalis.fr/encyclopedie/ponce-pilate/#