quarta-feira, 30 de dezembro de 2015




O soldo do legionário romano

No início da República Romana, excepto em caso de doença ou outro, o serviço militar “não renumerado” era obrigatório a todos os homens em idade de combater.
Após a temporada da campanha militar concluída, esses soldados a tempo parcial regressavam às suas casas e retomavam as suas atividades civis.

Desde o cerco de Veios (antiga cidade etrusca) no ano 306 a. C.,  Roma à frente da Liga latina teve que suportar uma longa guerra contra os etruscos.
Foi então que surgiu pela primeira vez a questão das condições de remuneração dos combatentes; (antes, era um dever cívico de todo cidadão).

No final do século III a.C., Polybius; general e homem de estado romano, fixou o salário dos  legionários em 2 óbolos por dia ou seja cerca de 180 denários por ano. Um centurião recebia 4 óbolos um cavaleiro 1 dracma.

Anónimo- Óbolo cunhado no sul da Itália, cerca do ano 260 a.C.
Anv. Efígie feminina à direita
Rev. Leão caminhando para a direita com uma lança na boca,   ROMANO
(Ref. Crawford-16/1ª, Sydenham-5, RBW-10, HN Italy-276)

 Anónimo-Dracma cunhado em Roma cerca de 280-212 a.C.
Anv. Cabeça janiforme
Rev. Júpiter conduzindo uma quadriga para a esquerda, ROMA
(Ref. Crawford-44/6,5, Sydenham-67, Babelon-25,)

República Romana- Denário cunhado em Roma cerca de 211-202 a.C.
Anv. Cabeça de Roma com capaceto à direita,  X
Rev. Os dioscuros Castor e Polux galopando para a direita,  ROMA
(Ref. RRC-44/5, RCV-38)

Sob Júlio César, como ditador absoluto da República Romana "49-44 a.C"., o salário do legionário passou para 225 denários por ano mas, éra-lhes descontado o preço do fardamento militar.
Por vezes parte do salário era pago em sal, (na época mercadoria rara)  que o legionário podia trocar contra outros bens em quase todos os países ocupados por Roma.

O número de homens em cada legião variava entre 4 000 e 8 000 homens, geralmente 4800 a 5 000 soldados, incluindo 300 a 600 auxiliares.
 No entanto, durante o período de Júlio César, o número de soldados por legião nunca ultrapassou os três mil homens.

Júlio César-Denário cunhado em Roma no ano 44 a.C.
Anv. César laureado à direita e lítuo,
CAESAR IMP
Rev. Venus com uma Vitória na mão direita,  um bastão na esquerda e escudo,
M. METTIVS  (monetário)
(Ref. Crawford-480/3, Sydenham-1056, RSC-34)

O pagamento do soldo em sal, está na origem da palavra “salário” (do latim salarium, o sal).

As tropas auxiliares, unidades especializadas tais como os cavaleiros; recebiam salários diferentes.
Assim “Thus Duplicaruis Alae ou Sequiplicarius Alae”, significa que estas unidades de cavalaria recebiam um soldo superior de uma vez e meia ou duas, em relação ao resto das tropas. 

Durante o período de Marco António "cônsul e general romano" alguns documentos atestam que  foram cunhados denários individuais para todas as legiões; "23" sob o seu comando.
Todavia para a LEG I ainda não foi encontrado nenhum exemplar.

Geralmente as moedas eram cunhadas ou "batidas", nos acampamentos militares.
Num cunho fixo, sobre o qual se colocava o disco monetário, o moedeiro escostava, seguro por uma das mãos,  o cunho móvel, que recebia a pancada do martelo, empunhado pela outra mão.

Este processo inventado na Lídia durante o reinado do rei Creso 595-547 a.C., esteve em vigor em Portugal até cerca de 1678, ano em que foi  substituído pela cunhagem mecânica o “balancé”.

Marco António-Denário cunhado em Patras 32-31 a.C.
Anv. Galera pretoriana,  ANT AVG III VIR RPC
Rev. Águia legionária entre duas insígnias militares,  LEG II
(Ref. RSC-27, Crawford-544/14, Sydenham-1216)

Marco António-Denário cunhado em Patras 32-31 a.C.
Anv. Galera pretoriana,  ANT AVG III VIR RPC
Rev. Águia legionária entre duas insígnias militares,  LEG XXIII
(Ref. RSC-27, Crawford-544/39, Sydenham-1246, RSC-60)

O soldo anual era pago em três vezes (três stipendium) repartido entre os  meses de janeiro, maio e setembro.
O imperador Domiciano (81-96), introduziu um quarto stipendium e aumentou o soldo anual para 300 denários.

Domiciano-Denário cunhado em Roma no ano 71
Anv. Domiciano laureado à direita,
IMP CAES DOMITIAN AVG PONT
Rev. Golfinho enrolado numa âncora,
P P COS VII DES VIII
(Ref. RIC-13)

A palavra latina “stipendium numerare” chegou até aos nossos dias e, significa pagar o soldo aos soldados.

MGeada

Bibliografia
François Cadiou, Hibera in terra miles- Os exércitos romanos e a conquista da Hispânia sob a República Romana, 218-45 a.C., casa de Velazquez, 2008, 700 pg.
Laurent Fleuret; Les armées au combat dans les Anales de Tacito, Mémoire de maîtrise, Université de Nantes, 1997.
Yvan le Bohec; L’armée romaine sous le haut empire, Paris, Picard, 2002, 3e édition.
http://www.monnaies-romaines.net/

sexta-feira, 27 de novembro de 2015


Pecunia non olet
Dinheiro não tem cheiro

À primeira vista esta opinião pode parecer anormal ou pelo menos imoral.
Ela é infelizmente bastante explícita no seu significado mas, não é minha intenção entrar aqui em argumentos escuros.

Sabem de onde vem esta expressão? 

Os imperadores romanos para pagarem as tropas concentradas nas fronteiras do seu imenso território ou, simplesmente para comprar consciências, o silêncio dos seus inimigos ou amigos, muitas vezes tiveram de recorrer aos mais diversos expedientes.
Criação de novos  impostos, tributos cada vez mais pesados impostos aos povos sob o seu domínio, desvalorização da moeda e outros. 

Vespasiano que reinou de 69 a 79, após ter usado e abusado de vários artífices para cobrar dinheiro, teve a ideia de construir pequenos edifícios públicos e, fazer pagar um tributo ou contribuição  aos utilizadores que hoje  podemos chamar taxa.

  

Em Roma ninguém reclamou o estabelecimento dessas “vespasianas” (mictórios ou urinois),  nem do zelo que o imperador lhes dedicava, para salvaguardar a higiene e a pobreza da cidade, exceto o seu filho, futuro imperador Tito que, escandalizado perante o afluxo de tanto dinheiro, declarou que não queria sujar as mãos com essas moedas.

“Pai o  teu dinheiro cheira mal” terá dito Tito, ao mesmo tempo que lhe atirava uma moeda.
Vespasiano não se exaltou e tentou acalmar o  filho, para isso  mandou chamar um escravo, aproximou-lhe  uma moeda do nariz  e perguntou-lhe se era fedorenta.


“Non olet, domine” não tem cheiro mestre, terá respondido o escravo, "segundo Suetônio e Dião Cássio que relatam este acontecimento".
Vespasiano não só cobrava um tributo aos utilizadores, como também vendia a urina que, na  época, era o único produto conhecido para fixar as cores nas tinturas e branquer a roupa.   

Roma chegou a ter 144 vespasianas.
Por vezes construídas na proximidade dos banhos, logo de início tiveram enorme sucesso.
Se na capital romana havia 144, quantas não haveria no imenso Império Romano?

Apesar de narrada como anedota sobre a avareza de Vespasiano, a história conta a luta do imperador que, para equilibrar as contas de Roma a braços com uma guerra civil desde a morte do imperador Nero, não deu importância aos eventuais maus cheiros e conseguiu por as contas do Império em dia. 

Tito Flávio Sabino “Vespasiano”
Nasceu perto de  Rieti (Itália) no dia 17 de novembro do ano 9 e, faleceu em Roma em 23 de junho de 79.

Sestércio cunhado em Roma no ano 71
Anv. Vespasiano laureado à direita,
IMP CAES VESPASIAN AVG P M  TR  P P P COS III
Rev. Vespasiano com um pé num capacete, lança na mão direita, parazónio (espada curta) na esquerda, palmeira e a Judeia chorando sentada numa couraça.
IVDAEA CAPTA S C
(Ref. C-239, RIC-427, BMC-53)

MGeada

Bibliografia
Dio Cassius; História Romana. livro 65, capítulo14
Gabriel Remy; A comme... Paris, Le diccionaire du monde mystérieux des monnaies, editions Seichamps,1981.
Wikipédia

sexta-feira, 30 de outubro de 2015



Asclépio, o deus médico

Asclépio (em grego, Asklepiós) ou Esculápio (em latim, Aesculapius), deus da medicina e da cura na mitologia greco-romana, tem como símbolo, um bastão ou bordão, com uma cobra enrolada.

Faustina II (a Jovem), AE 15 cunhado em Lídia, cerca de 170 d.C.
Anv. Faustina à direita
Rev. Bastão de Esculápio
(Ref. BMC-16, Waddington-5045)

Apesar de não fazer parte do Dodecateão “deuses do Monte Olimpo”, nem do Panteão Romano, Asclépio foi uma das divindades mais populares do nundo antigo ao ponto que, Lúcio Apuleio aquando duma alocução disse, Aescupapius ubique “Esculápio por toda a parte, em todos os lados”.  
(Lúcio Apuleio: escritor e filósofo romano).

Asclépio ou Esculápio deus da medicina, aparece com muita frequência na numismatica greco-romana.

Nas primeiras seis moedas por serem cunhadas em regiões da Grécia Antiga, vou designá-lo por Asclépio; nas moedas romanas, por Esculápio.

Pérgamo (Mísia)-AE 20, cerca de 300-133 a.C.
Anv. Asclépio laureado à direita
Rev. Águia sobre um raio
(Ref. SNGCop-379)

Pérgamo (Misia)-AE 17 cerca de 200-30 a.C.
Anv. Asclépio à direita
Rev. Cobras entrelaçadas
(Ref. SNGCop-401, Lindgren I-299, BMC-164)

Lendas

Segundo a lenda mais corrente, Ascplépio era filho de Apolo e Coronis, filha de Flégias rei dos “lápidas”.
Coronis na ocasião vivia com Apolo e já estava grávida, quando tomou novo amante; um  arcadiano chamado Isquis.

Apolo foi prevenido da sua infortuna graças ao seu dom de adivinhação, ou então terá sido avisado por uma gralha-preta (pássaro da família dos corvos), que na ocasião eram brancas.
Coronis ao ter conhecimento do fato, amaldiçou a gralha que a partir desse dia passou a ter a plumagem preta.

Ilhas de Cária, Cós-Tetrabolo, cerca de 145-88 a.C.
(Magistrado NIKOME ΘEYФAMI)
Anv. Asclépio à direita
Rev. cobra no interior de um quadrado côncavo
(Ref. ANSMN-11)
(Tetrabolo=4 óbolos)

Pérgamo (Mísia)-AE 14, 113 a.C.
Anv. Asclépio laureado à direita
Rev. Bastão de Asclépio
(Ref. SNGFrance-1828, SNGCop-370)

Apolo contou a sua infelicidade  à sua irmã Artemis que de imediato crivou de flechas a infiel Coronis, ou então terá sido ele mesmo que a matou assim como o seu amante Isquis.

Os corpos já se encontravam na pira funerária, quando Apolo se apercebeu que a sua amante estava grávida. Sem hesitar, arrebatou o filho do ventre de Coronis salvando-o das chamas.

Pérgamo (Mísia)-E 20. após 133 a.c.
Anv. Asclépio laureado à direita
Rev. Cobra
(Ref. SNG V,Aul. 1372)


Ilhas de Cária, Cós-AE 22, I século a.C.
Anv. Asclépio laureado à direita
Rev. Cobra
(Ref. COP-684, BMC-194, SNG Tubingen-3525)

Numa outra versão, Coronis deu à luz normalmente quando em companhia do seu irmão visitava Epidauro, cidade da Grécia Antiga.
Uma outra lenda diz-nos, Asclépio ser filho de Arsinoé, uma filha de Leucipe.

De início o pequeno Asclépio foi acolhido por um pastor que o alimentou com o leite das suas cabras.
Mais tarde, Apolo confiou o seu filho ao Centauro Quírom que lhe ensinou a arte da medicina.

Sabina-AE 28 cunhado em Lídia, por cerca de 130
Anv. Sabina à direita
Rev. Bastão de Esculápio
(Ref. BMC-15, SNG Cop-210)

Cómodo- AE 31 cunhado em Lídia, 177-192
(Magistrado, Vettios Antoninus)
Anv. Cómodo à direita.
Rev. Esculápio com o bastão na mão direita, à sua esquerda um sacerdote
(Ref. Mionnet IV-327, Vienna-8228, Paris-563-564)

Atena deu a Esculápio dois frascos contendo o sangue de uma Medusa.
Um altamente venenoso permitia matar, outro um remédio maravilhoso que permitia  ressuscitar os mortos.

Após ter ressuscitado Licurgo (rei de Nemeia), Canapeu (um dos sete contra Tebas), Tíndaro (na mitologia grega  rei de Esparta), Hipólito (filho de Teseu e de  Hipólita, rainha das amazonas), Hades queixou-se a Zeus que a ordem do mundo era susceptível de ser alterada  e este matou Asclépio com um raio.

Clódio Albino- Denário cunhado em Roma, 193-195
Anv. Clódio à direita
Rev. Esculápio com o seu bastão
(Ref. RIC IV-2, BMCRE-88, RSC-9), Cohen-9)

Geta-Denário cunhado em Roma 194-195
Anv. Geta à direita
Rev. Esculápio ladeado por duas cobras no interior 
de um dos seus muitos templos, (raríssimo)

Enfurecido, Apolo matou os ciclopes que forjaram o raio.
Ato que não agradou a Zeus que, sem a intercessão de Léto (ou Latona), uma das suas amantes, Apolo  que teria sido lançado ao “Tarto”, só foi condenado a servir um ser mortal como pastor durante um ano.
(Tarto: na mitologia grega um lugar localizado nas profundezas da terra).

Outra lenda  diz-nos que Apolo não se vingou nos ciclopes , mas nos seus filhos.

Todavia Zeus, ressuscitou Asclépio sobre a forma de uma serpente,  cumprindo assim a profecia da filha de Quírom, que tinha predito que este viria a ser um deus.
Asclépio foi considerado como um dos deuses mais populares.
Casou com Epione, princesa de Cos (o seu nome significa suave), tiveram diversos filhos entre os quais Panáceia, Hígia (ou Higéia) e Télesforo.


Caracala-AE 29 cunhado em Augusta Trajana (Trácia)198-217
Anv. Caracala laureado à direita.
Rev. Esculápio no interior do templo
(Ref. Moushmov-3078)
(Augusta Trajana: atual Strara Zaroga em Bulgária)

Caracala- AE 30 cunhado em Pérgamo (Mísia) em 214
Anv. Caracala com couraça e laureado à direita
Rev. À esquerda Caracala vestido com a toga; junto ao templo, 
um vitimário prestes  a sacrificar um touro em louvor de Esculápio 
(Ref. SNGFrance-2230, BMC-324, Von Fritze Pergamon pl, VIII, 8)
(Mísia: antiga Ásia Menor, atualmente território da Turquia)

Culto

Os seus principais santuários (Asclépieia) eram Epidauro o “mais famoso”, Tricca, Cós, Pérgamo, Atenas, Cnidos e Cirene. 
Epidauro foi a “Meca” da medicina durante muitos séculos e, só perdeu a sua hegemonia após ser destruído por um sismo durante o período romano.

Era ao templo de Epidauro que se ia buscar a cura seguindo algumas regras muito austeras.
Serpentes não venenosas passeavam livremente no tempo de Asclépio.
Em seguida o deus aparecia em sonho aos sacerdotes do culto, e revelava-lhes o remédio que curava o doente. 

No século VI a. C., Epidauro fazia parte da Antifictiona, liga religiosa que agrupava doze povos, não cidades, quase todos da Grécia Central nos tempos do período arcaico, antes do surgimento da Pólis, e períodos seguintes da Grécia Antiga.

Epidauro participou nas guerras Persas e tornou-se um ponto estratégico entre Esparta e Atenas.
A sua celebridade foi adquirida através do tempo de Asclépio.

Templo de Hígia, filha de Asclépio
Caracala-AE 28 cunhado em Marcianopolis 198-217
Anv. Bustos de Caracala e Júlia Domna (sua mãe)
Rev. Hígia no interior do templo
(Ref. Varbanov-1048)
(Marcianopolis: cidade romana na província de Mésia, actual Devnja em Bulgária)

Antonino Pio-Áureo cunhado em Roma em 215
Anv. Antonino laureado à direita
Rev. Esculápio no interior de um templo; à sua direita uma criança ;em frente do templo Antonino oferecendo um sacrifício; à sua direita, um secerdote  
(Ref. Choen-317, RIC-270ª, BMCRE-148)

A cidade juntou-se à Liga Aqueia ou Liga Acaia e foi tomada por Cleômenes III no ano 255 a.C..
No Século I a.C., foi saqueada por Sula, homem de estado romano, que na ocasião era cônsul.
A cidade desapareceu definitivamente da história, no século VI da nossa era.

Nas suas  ruínas podemos observar vários templos, entre os quais o  Templo de Asclépio.

Os descendentes de Asclépio, os “Asclepíades” formaram uma confraria com os seus ritos secretos.
Hipócrates grande médico da antiguidade dizia ser descendente de Asclépio.

O culto de Esculápio foi introduzido em Roma no ano 290 a.C., aquando de uma epidemia de peste.
Um templo ao deus foi erigido numa ilha do Tibre.
Mais tarde, por vezes era confundido com Serápis, divindade sincrética helenístico-egípcia da Antiguidade Clássica.

Iconografia

De início representado como um jovem imberbo, por volta do século IV a.C., passou a ser representado como um homem de idade com a barba grande.

Por vezes Asclépio aparece rodeado pela sua esposa, Epione (a que cura),  das suas filhas, Panácea, Hígia, e dos seus filhos Podalírio, Machaon e Télesforo.

Póstumo, Antoniniano cunhado em Colônia em 226
Anv. Póstumo à direita
Rev. Esculápio com o seu  bastão na mão direita
(Ref. RIC V-2 Cologne 327 , Elmer-418, Cunetio Hoard-2433)

Galieno-Antoniniano cunhado em Antioquia 265-266
Anv. Galieno à direita
Rev. Esculápio com o bastão na mão direita  
(Ref. RIC-632)

Podalírio e Machaon herdaram o dom da cura do seu  pai e governaram juntos  as cidades de Tricca, e Itome.
Devido à sua boa reputação na área da medicina,  foram convidados a participar na expedição a Troia onde prestaram bons serviços como médicos.

Télesforo: epíteto do deus Euamerion também era adorado no templo de Esculápio.

Télesforo, terceiro filho de Asclépio é uma divindade associada à convalescença, aparece muitas vezes representado juntamente com o seu pai e sua irmã Hígia.

No Oriente e principalmente na Bulgária, algumas farmácias parecem santuários pagãs consagrados a duas divindades; Esculápio e Hígia das quais os bustos enquadram as portas.

    
  
MGeada

Bibliografia
Dr. Constance Joel.; les Filles d’Esculape, Éditions  Robert Lafont, 1988
Edith Hamilton ; La Mitologie, Ses Dieux, ses Héros, ses Legendes, Éditions Marabout 1978
José Maria Folgosa , Dicionário de Numismática, Edição: Livraria Fernando Machado, Porto, “sem data”.
Mário da Gama Kury ; Dicionário da Mitologia Grega e Romana. Zahar, 2003. 405p.
Mitologia- Mitos e Lendas de Todo o Mundo, Editora Caracter, edição 2012.
Thomas Bulfinch, O Livro da Mitologia,Editora Martin Claret,2013.
http://www.oniros.fr/esculape.html  

segunda-feira, 5 de outubro de 2015


Revolução de 5 de outubro de 1910

Elevado ao trono como herdeiro de D. Carlos I, em 01-02-1908, quando este e o primogénito, D. Luis Filipe foram eliminados por golpe traiçoeiro, o infante D. Manuel com 19 anos incompletos começou a governar como segundo rei do seu nome.

D. Manuel tem uma posição passageira entre a Monarquia e a Repúbica.
A ideia de novo regime vai ganhando terreno, como se fora o remédio para todos os males de que enfermava a monarquia, velha de mais de sete séculos.

Os partidos políticos aproveitam todas as oportunidades para se digladiarem e assacar as culpas de tudo ao governo e ao regime vigente.

Após a  revolta militar (fracassada) no Porto  em 31 de janeiro de 1891, os republicanos não abandonaram os seus projetos e, aproveitam a fraqueza dos monarquicos para com propaganda intensa alargarem o seu eleitorado e, pela segunda vez  prepararam ambiente para se apoderarem do poder e, conseguiram-no por fim.

No Porto deu-se a revolução vitoriosa de 4 de outubro de 1910.
Uma revolução onde colaboraram a maior parte das forças que sustentavam o trono, fê-lo ruir e permitiu a proclamação da República em Lisboa no dia 5,  logo de seguida uma cerimónia idêntica no Porto e outras localidades.  


Às oito horas do dia 5 de outubro de 1910, José Relvas e outros membros do Partido Republicano Português, na varanda dos Paços do Conselho de Lisboa, perante milhares de pessoas, proclamaram a República.

Foi constituído um governo provisório, presidido por Teófilo de Braga que imediatamente publicou diversa legislação.
Entre outras, expulsou as ordens religiosas do país encerrando os conventos, aboliu o ensino da doutrina cristã nas escolas, estabeleceu o divórcio, o registo civil obrigatório, etc.

A bandeira e o hino nacional também foram substituídos, instituindo-se a bandeira verde rubra, (agora bandeira nacional), e “A Portuguesa”  (hino nacional).
Em 1911 foi promulgada uma nova Constituição e o Dr. Manuel de Arriaga eleito primeiro presidente da República Portuguesa.


Do azul branco ao verde rubro,
a simbólica da bandeira nacional




Bandeira instituída em novembro de 1910


Modelo adotado em 30 de junho de 1911

Um escudo comemorativo da revolução de 5 de outubro de 1910.
Cunhado  em 1914 a 1 000 000 de exemplares de prata a 835‰, tem um diâmetro de 37mm, e 25g. de peso.

Escultor:
Anv. Francisco dos Santos
Rev. José Simões de Almeida
Gravador : Alves de Rego
Legislação: Decreto- lei n. 927 de 3 de outubro de 1914.

Anv. À direita do campo, tendo como fundo o sol nascente sobre a terra, a figura simbólica da República, de meio corpo à esquerda, envolvida na bandeira nacional e empunhando um facho aceso na mão direita, tendo por baixo a inscrição “5 de outubro de 2010”, em três linhas e, na orla superior, a legenda “República Portuguesa”, entre pares de estrelas.

Rev. Ao centro do campo, o escudo das armas nacionais assente num “fascio” romano de varas e machado, circundado por vergônteas de louro e de carvalho entrelaçadas em baixo por um laço e, na orla inferior, o valor, “1 Escudo”.

Dois euros comemorativos do centenário da República Portuguesa.
Cunhado em setembro 2010 a 2 000 000 de exemplares, é bimetálico (latão níquel), com um diâmetro de 25,75mmm e peso 5,5 g. .

Escultor: José Cândido e Luc Luycx
Legislação: Resolução do Conselho de Ministros n. 25/2010, de 5 de abril

Anv. No campo central, é utilizada uma composição dos elementos mais significantes e simbólicos da República: a efigíe e as armas da mesma e a legenda “República Portuguesa 1910-2010”, dispostos em arco sobre o escudo e, envolvendo todo o desenho, encontram-se dispostas em forma circular as 12 estrelas que representam a União Europeia.

Rev. O número 2 que representa o valor da moeda aparece no lado esquerdo da face comum.
Sobre o lado direito da mesma face, surgem seis linhas verticais direitas, sobre as quais estão sobrepostas doze estrelas, cada uma imediatamente antes de cada  extremidade destas linhas .
O continente europeu está representado no lado direito.
A parte direita desta representaçãp subrepõe-se à secção média das linhas.
A palavra EURO está sobreposta horizontalmente na parte central direita da face comum.
As iniciais “LL” do autor da gravura estão inscritas sob a letra “O”, perto do bordo do lado direito da moeda.

MGeada

Bibliografia
Jorge de Abreu. A Revolução Portuguesa , 5 de Outubro 1910: Lisboa, casa Alfredo David, 1912.
Valente, Vasco Pulido; O Poder e o Povo: a Revolução de 1910, 5.ed. Lisboa. Gradiva,2004.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015


Príapo ou Priapo, deus grego da fertilidade, é um deus itifálico protetor dos produtos agrícolas, uvas, rebanhos, e abelhas.
Na mitologia romana é conhecido por Mutuno Tutuno ou Mutini Titino, em latin, “Mutunus Tutunus ou Mutinus Titinus”.

Augusto-AE 17 cunhado em Lâmpsaco (Mísia), 27 a.C.-14 d.C.
Anv. Augusto laureado à direita
Rev. Príapo Ithyphallic à esquerda
(Ref. RPC I-2274, BMC-79, SNG France-1267)
(O termo Ithyphallic é uma referência aos deuses da fertilidade, sempre representados com o pénis ereto).


Augusto-AE 16 cunhado em Lâmpsaco, 27 a.C.-14 d.C.
Anv, Augusto laureado à direita
Rev. Príapo Ithyphallic à esquerda
(Ref. RPC I-2276, SNG France-1263)

Muito popular na Roma antiga, o deus Príapo é fácilmente reconhecido pelo seu “gigantesco pénis constantemente ereto”, particularidade que deu o nome ao termo médical priapismo.
“Sindroma genital caraterizado por ereções violentas, dolorosas e persistentes, mas que não despertam qualquer desejo sexual, é uma urgência medical que necessita ser tratada”.

Mito

Príapo terá nascido em Lâmpsaco-Mísia, é filho de Zeus e de Afrodite, (outras versões dão-lhe  como pai Hermes, Adónis, ou ainda Dionísio).

Domiciano-AE 15 cunhado em Lâmpsaco em 138
Anv. Domiciano laureado à direita
Rev. Príapo Ithyphallic à esquerda
(Ref. RPC-890, SNG Cop-235, Waddinton-893)

Alguns autores, envelhecem a lenda de algumas gerações e veem em Príapo um titã, ao qual Hera terá confiado a tarefa de ensinar o manejo das armas a Ares, “deus da guerra”.

Noutra versão do mito, Príapo foi punido pelos deuses por ter tentado violar uma deusa  e, como castigo, deram-lhe enormes atributos para que ele nunca mais conhecesse o prazer,  nem a fecundidade.

Antonino Pio-AE 17 cunhado em Lâmpsaco em 138
Anv. Antonino Pio à direita
Rev. Príapo Ithyphallic à esquerda

Existem muitas  lendas  sobre o nascimento de Príapo; provavelmente variantes da versão mais corrente, segundo a qual, o deus terá sido o fruto dos amores clandestinos entre Zeus e Afrodite.

Afrodite não escapou à inveja vingativa de Hera,  “esposa legítima de Zeus”, porque a deformidade sexual do filho seria devido à malevolência de Hera, com ciúmes da deusa do amor. 

Septímio Severo- AE 26, cunhado em Lâmpsacos 193-211
Anv. Septímio Severo laureado à direita
Rev. Templo de Príapo (em Lâmpsaco), com a sua estátua no interior. 
(Ref. Classifical Numismatique Group, venda eletrónica lote n.168)

Quando Afrodite estava prestes a dar à luz, Hera acorreu e colocou-lhe a mão no ventre.
O resultado foi que Afrodite  deu à luz um ser de aparência repulsiva, com uma língua e uma barriga enormes.

Septímio Severo-AE 17, cunhado em Nicopolis (Moesia inferior) 193-211
Anv. Septímio laureado à direita
Rev. Príapo Ithyphallic à direita
(Ref. Sear 5-238, Crawford-341/1- Syd-69)

Terrorisada, a deusa abandonou o récem-nascido.
Este foi acolhido por pastores que apreciaram a sua robustez; mais tarde, Príapo juntou-se ao cortejo de Dionísio.

Outra versão, faz de Príapo filho de Dionísio e de Afrodite, enquanto outra lhe atribui como pai o deus  Adónis.
Segundo esta lenda, Afrodite terá aproveitado uma viagem que o seu esposo fez ao Olimpo para ter relações sexuais com Adónis.

Septímio Severo-AE 21, cunhado em Nicopolis, 193-211
Anv. Septímio laureado à direita
Rev. Príapro Ithyphallic à esquerda
(Ref. AMNG I-1380, Mouchmov-987, Varbanov-1789)

Após o regresso de Dionísio e, depois de lhe dar as boas vindas, Afrodite fugiu para Lâmpsaco, onde depois da intervenção de Hera, deu à luz uma criança da qual ela não pode suportar a visão.
Uma outra versão sobre Príapo, diz-nos ser filho de Dionísio e da Náiade Quione. 

Júlia Domna-AE 26, cunhado em Nicoplolis, 193-217
Anv. Júlia Domna à direita
Rev.  Príapro Ithyphallic à direita
(Ref.Moushmov-1052, Varbanov 288-289)

Príapo que detestava os burros, pediu  para os sacrificarem durante as cerimónias no seu culto.
A sua antipatia por este animal vem do fato (segundo Ovídio) que uma noite quando se preparava para violar  Héstia, a deusa foi advertida pelo zurrar de um burro e, assim conseguiu escapar ao ardor de Príapo.

Esta aventura confunde-se com outra de uma época mais recente que segundo Ovídio, (Metamorfoses e Fastes) o deus teve uma relação com a ninfa Náiade Lotis que recorda a lenda de Pã Sírinx.
No nomento em que Príapo acredita ter atingido o seu objetivo, Lotis metamorfoseou-se na  árvore que ainda hoje tem o seu nome, o “lótus”.

Eleogábalo-AE 18, cunhado em Nicopolis,208-222
Anv. Eleogábalo laureado à direita
Rev. Príapro Ithyphallic à esquerda
(Ref. Varbanov-3811, AMNG-2022)

Outra lenda diz-nos que a tentativa do deus falhou, porque no momento em que ia violentar a ninfa, esta foi advertida pelo zurrar do buro de Sileno, que permitiu a Lotis de fugir.
Furioso Príapo matou o animal que tinha frustrado os seus planos.
(Sileno: na mitologia grega e romana, era um dos seguidores e fiel companheiro de Dionísio)

Maximino Trácio-AE 24 cunhado em Lâmpsaco, 235-238
Anv. Maximino laureado à direita
Rev. Príapo Ithyphallic à esquerda

Outra versão diferente nos é dada pelo seu ódio para com os  equídeos.
Ela tem por origem uma briga com um burro que Dionísio cavalgou durante muito tempo e ao qual ele concedeu o dom de falar.

Em causa estava o respectivo tamanho do pénis.
Príapo comparou o seu orgão sexual com o do burro e, depois de ver o tamanho dos seus atributos (superior aos seus) matou-o.

Trajano Décio-AE 21, cunhado em Lâmpsaco, 249-251
Anv. Trajano laureado à direita
Rev. Príapo Ithyphallic à esquerda


O deus protetor dos produtos agrícolas, uvas, rebanhos, e abelhas, matou o burro que Dionísio venerava e que este depois colocou entre as estrelas.

É difícil compreender qual a base deste mito.
Sabemos que em Lâmpsaco sacrificavam-se burros em louvor do deus Príapo, enquanto para a festa de Héstia os burros eram coroados com flores!

MGeada

Bibliografia
Michel Foucaud; História da Sexualidade. 3 vol. Rio de Janeiro, Graal, 1988
Philipe Morel; Priape à la Renaissance : Les guirlandes de Giovanni da Udine à la Farnésine, Revue de l’Art, 69, 1985, 13-28.
Cyril Dumas et David Furdos ; Priape entre lévocation et superstition, Dossiers d’arqueologie, n. H.S. 22, avril 2012, p, 36-41.
http://www.asiaminorcoins.com/gallery/thumbnails.php?album=104