domingo, 27 de outubro de 2013

Aníbal Barca 247-183 a.C.

Filho de Amilcar Barca (cerca de 270-228 a.C.), Aníbal nasceu na Bitínia e passou parte da sua juventude com o seu pai em campos militares na Espanha.

General e homem de estado, (um dos maiores líderes da história) cresceu num ambiente familiar que odiava os romanos e, ainda adolescente distinguiu-se pela sua bravura e inteligência.
É hoje impossível saber de onde veio a iniciativa da grande expedição que ele empreendeu contra Roma.

Seria um plano de Cartago?
Uma ideia do seu pai ou sua comitiva?
Ou seria um projeto imposto a um estado cujos chefes estabelecidos em Espanha não eram totalmemte independentes?

Aníbal provocou o furor dos romanos ao atacar a pequena cidade de Sagunto (históricamente conhecida por Morvedre) perto do rio Ebro (um dos maiores rios de Espanha) violando assim o tratado entre Roma e Cartago.
Apesar da resistência lendária dos seus habitantes, após um cerco de oito meses a cidade foi completamente destruída no ano 218 ou 219 a.C..

Seria mesmo un ato intencional de Aníbal para provocar os romanos?
Nesta área controversa segundo a opinião de J. Carpopino (historiador e especialista da Roma Antiga) foi Aníbal o responsável deste conflito.
Com a guerra declarada, Aníbal lançou uma expedição por via terreste.
Sem mapas exatos do mediterrâneo, o general terá feito um cálculo errado dos itinerários possíveis para Roma.

Aníbal Barca - Espanha Cartaginesa
Duplo shekel de prata 247-183 a.C. , cerca de  213- 210 a.C.
Anv.  Aníbal ou Triptóleno ? ,  laureado à esquerda.
Rev.  Cornaca ou Aníbal ?,  montado num elefante à direita.
(Faz parte do tesouro encontrado em Mogente, (Valência-Espanha)

(Conhecidas a poucos exemplares estas moedas são célebres pela representação do elefante no reverso.
Este animal emblemático foi utilizado durante a segunda Guerra Púnica pelas tropas cartaginesas comandadas por Aníbal.
A travessia dos Alpes com estes paquidermes é uma das maiores façanhas militares da antiguidade .
O retrato laureado do anverso é tradicionalmente designado por Triptólemo (herói cujo culto estava associado à deusa Deméter  e à agricultuta) ou Melcarte, (divindade  titular da cidade fenícia de Tiro,  importada pelos colonos fenícios fundadores de Cartago).
Os traços realistas do rosto e a presença do bigode  sugerem no entanto que estamos aqui em presença do retrato de um dos membros da família de Amilcar Barca.
Se a ausência de representação contemporânea não permite a atribuição certa, a escolha de Aníbal é perfeitamente pausível, o que faria desta moeda o único e verdadeiro retrato do célebre general.)

Inicialmente com um exército composto de africanos e iberos, e a esperança de pelo  caminho aliar povos inteiros à sua causa, Aníbal saíu do país púnico já com um exército de cerca de 100 000 homens, 37 elefantes de guerra e, terá perdido metade do seu efetivo antes de encontrar os romanos comandados por Publius (Públio Cornélio Cipião) que chegaram tarde demais para impedir Aníbal de sair do Ebro e continuar a sua progressão.

 Espanha Cartaginesa
Shekel AR, cerca de 221-216 a.C.
Anv. Cabeça de Melkart ou Aníbal, laureada à esquerda.
Rev. Elefante à direita.

Depois de  alguns combates rudes com algumas tribos naturais do norte da Espanha, na Gália teve que evitar algumas tropas gaulesas inquietas, em particular na travessia do Reno para lhes escapar.
Aí também os romanos perderam a ocasião : quando dias depois Cipião chegou de Marselha, já era demasiado tarde.
Quanto à rota que Aníbal seguiu para atravessar os Alpes, todas as hipóteses foram emitidas pelos historiadores.
Hoje os itinerários  do Isère e do Monte Cenis (2 081 m) são os mais credíveis, todavia tinha que ser um itinerário difícil, de maneira a surpreender o adversário.

Aníbal e o seu exército na travessia dos Alpes

As passagens estreitas, a neve, as embuscadas dos montanheses, levou a que o exército de Aníbal chegasse exausto e reduzido à Itália, numa planície que Roma não tinha previsto defender.
Aníbal venceu o general romano Públio Cornélio Cipião na batalha do Ticino travada em novembro de 218 a.C., e novamente na batalha do Trébia em dezembro do mesmo ano.
Uma das consequências da derrota dos romanos na batalha do Ticino, foi a deserção das tribos gaulesas do norte da Itália, porque a maioria destes homens  tinham sido incorporados à força no exército romano.
Estes soldados 2 000 de infantaria  e 200 de cavalaria, uma noite no acampamento conspiraram e massacraram todos os romanos enquanto dormiam.
Quando pela manhã estes gauleses se apresentaram perante Aníbal para combater ao seu lado, este enviou-os para as suas tribos respetivas, com o objetivo de as convencer a declarar guerra a  Roma.
Algumas legiões romanas, defendiam Arezzo no sopé  dos montes Apeninos (cordilheira que se estende quase ao longo de toda a Itália).
Aníbal contornou este obstáculo passando por uma planície inundada pelo rio Arno, onde o seu éxército teve grandes dificuldades e alguns  animais morreram afogados.
Foi aqui que Aníbal perdeu um olho com uma oftalmia : fato que não o impediu de saquear a cidade sob os olhos dos romanos que não resistiram à provocação e foram massacrados numa passagem estreita no Lago Trasimeno (cerca de 128 km2 e 258m acima do nível do mar)  pelos púnicos liderados por um grande mestre de estragégia militar no ano 217 a.C..
(O saque foi muito valioso, também incluia as minas de ouro de Vercelli, “o cofre forte” romano).


Roma sem defesa, aguardava a decisão  de Aníbal que não decidiu atacar antes de restaurar o seu exército, e rever a melhor maneira de atacar, baseando-se sobre o que tinha aprendido com a infantaria romana. Atacar na ocasião propícia, ou talvez esperar por uma possível deserção dos italianos, tal como aconteceu com os gauleses.
Como a rebelião esperada não aconteceu, Aníbal  dirigiu-se para sul da província, e em Canas no dia 2 de agosto do ano 216 a.C., derrotou um exército romano duas vezes superior ao seu.
Roma encrontrou-se novamente indefesa : Aníbal que podia triunfar e gozar a sua vitória, não atacou! 
Alguns historiadores encontram algumas razões como : a espera por  reforços de Cartago : (Aníbal esperou dez anos).
A demora do aliado macedónio.
A dificuldade nesse tempo de tomar uma cidade de assalto.
Ou ainda a fidelidade da Itália Central a Roma, contrariamente à Itália meridional que se aliou massivamente à causa púnica.
   
Cartago-época de Aníbal Barca 
Meio Shekel AR cerca de 214-210 a.C.
Anv. Cabeça de Melkart à esquerda.
Rev. Elefante à direita.

Desconhecemos o motivo exato desta decisão, mas sabemos que deixou as suas tropas gozar as delícias gregas em Cápua, até ao dia em que os romanos decidiram cercar esta cidade.
O general conseguiu  atirá-los para outros campos de batalha e derrotou-os  em várias ocasiões, tomando ao mesmo tempo algumas  cidades costeiras : Tarento, Heraclea, Thurium (Túrio), Metaponte.
Todavia Aníbal não conseguiu que os romanos levantassem o cerco de Cápua.
É no contexto destas  operações de diverção que devemos situar a sua marcha sobre Roma, no ano 211 a.C..

Ao avistar a cidade, Anibal acampou alguns dias na margem do rio Anio, ao mesmo tempo que examinava as muralhas.
Um violento temporal não permitiu que o general preparasse a  batalha,  que teve lugar numa planície.
Anibal e o seu exército deviam recordar aos romanos um terror lendário, e ao mesmo tempo estima para com o adversário.

Entretanto pouco tempo depois Cápua caíu sob o poder dos romanos, que trataram a população da cidade, com grande barbaridade.
Haníbal sofreu com tanta crueldade, pois toda esta diversão tinha como objectivo desviar a atenção dos romanos de Cápua.

Cartago- Época de Aníbal Barca
Duplo shekel AR, cerca de  213- 210 a.C.
Anv.  Cabeça de Tripoleno laureada  à esquerda ?.
Rev. Elefante caminhando para a direita.

A guerra continuou sem um objetivo certo, mas não sem fazer grandes estragos.
Em 210 a.C., o exército de Aníbal que tinha tomado e saqueado 400 localidades do sul da Itália, (por estas se terem aliado novamente à causa de Roma) começou  a perder terreno e gradualmente foi empurrado para Brutum (Brútio atual Calábria Ulterior).

Apesar da fidelidade vacilante  dos latinos, no ano 209 a.C., e da chegada tardiva dos seus irmãos Asdrúbal (Barca) e depois Magão, reforços enviados por Cartago, Aníbal foi obrigado a manter-se num território cada vez mais restrito.   

Quando no ano 203 a.C., após o desembarque de Cipião na África, e Cartago pediu a Aníbal que regressasse, este já só ocupava Crotone e as sua imediatações.
Foi nessa ocasião que Aníbal mandou gravar as suas proezas na fachada do templo de Hera Lacínia : (façanhas que ele pensava já concluídas).

Depois de saquear  Brutum, rumou para a África e encontrou Cipião com a esperança de poder negociar . Como não teve possibilidade, desencadeou-se  a batalha de  Zama (19 de outubro 202 a.C.), em condições que de início já lhe eram desfavoráveis.
A desordem fez o resto : Cartago foi derrotada no ano 202 a.C., e Aníbal obrigado a aceitar as duras condições de paz impostas por Cipião.
 
Depois de se tornar “sufeta” (um dos pricipais magistrados da antiga Cartago), realizou grandes reformas, e restaurou a atividade económica.

Esta sua dedicação à política interna de Cartago, não só inquietou Roma, como também os seus inimigos políticos. Além disso, ele optou por se refugiar na corte do rei da Síria ; Antíoco III Magno, ou Antíoco o Grande (222-187 a.C.), do qual se tornou conselheiro.

Cartago-Época de Aníbal Barca
Shekel AR, cerca 221-201 a.C.
Anv. Cabeça masculina , Anibal ou Melkart ? , à direita.
Rev. Elefante à direita M.

As intrigas da corte : o seu fracasso no ano 190 a.C, à frente de uma esquadra aquando da batalha naval que teve lugar na embocadura do Erimedonte, (província romana da Panfília, hoje Turquia),  e a paz de Apameia 188 a.C., (dois anos depois da batalha de Magnésia entre Antíoco Magno e os romanos) levaram a que ele se refugiasse na  Bitínia, onde prestou bons e leais serviços ao rei Prúsias (? por cerca de 183 a.C.), onde continuou a intrigar  contra Roma, fizeram da sua velhice um período de decepções.

Em todos os lados  Roma alcançou vitórias e Cartago chegou a duvidar  da sua lealdade.
Suspeitando que Prúsias tencionava entregá-lo aos romanos, Aníbal suicidou-se no ano 183 a.C..
Deste grande general “Anibal” apenas se conhecem as ações e os historiadores esforçam-se para conhecer as suas intenções : tarefa muito difícil.

Sabemos que além de grande guerreiro, foi também um político que sempre procurou aliados contra Roma, e a coalizão que sempre desejou formar com Siracusa e a Macedónia nunca a conseguiu.

Teimosamente sempre guerreou contra Roma, com uma cruzada mal apoiada por Cartago, apenas ajudado nesta obstinação pelo seu conhecimento das táticas militares macedónicas, um dos seus muitos conhecimentos da cultura helénica, e sempre teve sobre o seu exército, autoridade e supremacia.

Segundo observou Camille  Jullian (historiador francês 1859-1933) talvez ele se tenha inspirasse nas suas qualidades de prudência, teimosia e imaginação aventureira.

De alguns dos seus defeitos  podemos citar : crueldade, e um prazer imoderado de destrução e saque das cidades vencidas.

Julles Michelet (historiador francês 1798-1874) também não terá exagerado quando o tratou de “condottiero” (mercenário que controlava uma milícia sobre a qual tinha comando ilimitado, e estabelecia contratos com qualquer estado interessado nos seus serviços).

MGeada