quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Valéria Messalina Augusta

O primeiro fato controverso da vida de Messalina é a sua data de nascimento.
Alguns historiadores apontam o ano 17, porém é quase certo que tenha nascido entre os anos 20 e 25.

Filha de Barbatus Messal e Domícia Lépida, Messalina era também neta de Antónia a Velha, de Lúcio Domício e bisneta de Marco António.

Descendente de família nobre romana, Messalina casou com o imperador Cláudio no ano 38 ou 39, teria 13 ou 14 anos, idade legal de casamento para uma romana nessa época.

Uma rapariga com esta idade não podia ter ambições políticas.

Para a família Messala, o casamento de Messalina com Cláudio foi de grande conveniência visto que Cláudio era o único parente vivo de então imperador Calígula.

Para Cláudio esta união também foi importante, dado que Messalina era descendente de uma familia nobre,  não esquecendo a sua idade avançada (cerca de 50 anos), e os seus defeitos físicos: coxo, gaguejava e o mau hábito de cuspir enquanto falavava.

Messalina foi a terceira esposa de Cláudio do qual teve dois filhos.
Cláudia Otávia no ano 40 (futura esposa do imperador Nero), e Britanicus (Britânico) no ano 41, três semanas após a nomeação de Cláudio ao principado.

 
Messalina- AE 18 cunhado em Eólia (ou Eólida) 41-48
Anv. Busto de Messalina drapeado à direita,
CEBACTH MECAɅEINA
Rev. Zeus nu, com um bastão na mão esquerda e uma águia na direira,
AIΓAEION


Messalina- AE 23cunhado em Niceia, Bitínia, 41-48.
Anv. Busto drapeado de Messalina à esquerda
MEΣΣAɅEINA ΣEBAΣTH NEA HPA
(Messalina Augusta Nova Hera)
Rev. Templo de Hera Niceia
ΓAΔIOΣ POϒФOΣ ANΘϒΠATOΣ
(Caius Claudius Rufus Procônsul)

Apesar da reputação (libertina)  da sua esposa, a paternidade de Cláudio nunca foi posta em causa.
Segundo os historiadores  nos primeiros tempos de vida comum, tudo indicava ser um casal feliz, mas as coisas complicaram-se aquando da elevação de Cláudio ao poder supremo.

Tirânica, logo que ascendeu ao poder e como primeira dama do império, Messalina impôs-se como uma imperatriz de uma malvadez sem limites com  três principais objetivos.
A continuidade dinástica, os seus amores clandestinos, e o gosto pela riqueza.

Célebre pelo seu invulgar apetite sexual, (a história também lhe atribui algumas ações complacentes), a imperatriz tornou-se a imagem do escândalo e da luxúria,  que segundo o escritor Juvénal não hesitava prostituir-se publicamente nos bordéis de Subura e, transformou parte do palácio imperial num autêntico lupanar.

Aqui Messalina (segundo Dion Cassius LX, 18) não só exercia a sua própria devassidão, como também convidava, incentivava e obrigava outras mulheres a prostituir-se com os seus próprios amantes entre os quais alguns nobres, legionários e mesmo escravos na presença dos maridos.

Por estes homens que consentiam, sentia amizade e mesmo admiração que  ela recompensava com honras e  postos de comando.
Para quem rejeitava estas obscenidades: odiava-os, conspirava para os rebaixar e por vezes mandava assassinar.


Messalina e Antónia- AE 17 cunhado em Capadócia (Cesareia) 41-48.
Anv. Busto de Messalina laureado e drapeado à direita.
Rev. Busto de Antónia (sua avó)drapeado à direita.

Tudo isto se praticava com muita frequência e Cláudio levou muito tempo a perceber o que se passava no seu palácio.

É certo que Messalina fazia tudo para o distrair o imperador, metendo escravas na sua cama e ao mesmo tempo recompensar quem a encobria, e castigar severamente alguém em que não tivesse confiança e pudesse avisar o marido da atividade da esposa.

Exemplo: no ano 43, por suspeitar da fidelidade de Catonius Justus comandante da Guarda Pretoriana, mandou-o assassinar.
O mesmo aconteceu a Júlia, filha de Druso e neta de Tibério, entretanto esposa de Nero (sobrinho de Cláudio) da qual ela tinha ciúmes.  

Alguns historiadores contemporâneos tendem todavia embelezar a vida de Messalina, mas todos reconhecem a realidade da devassidão, da libertinagem da imperatriz, enquanto outros dizem que não era um caso único.
É certo que outras damas do império foram libertinas, mas Messalina direi que foi um caso excepcional.



Cláudio e Messalina - AE 20, cunhado em Creta,  cerca do ano 43.
Anv. Cabeça de Cláudio laureada à esquerda.
TI KLAUDIUO KAESAR GERMA SEBASTOS GERMA 
(Tibério Cláudio César Augusto Vencedor dos Germanos .
Rev. Messalina com diadema e drapeada à direita.
OUALERIA MESSALEINA
(Valéria Messalina)


Cláudio e Messalina-AE 17 cunhado em Paflagónia (ou Paflagônia) 40-41.
Cabeça de Cláudio laureada à direita.
CLAVDIVS CAES AVG CIF ANNO LXXXVI
Rev. Busto de Messalina drapeado à direita.
MESSALINA AVGVSTA

Se a história tem enegrecido a personalidade de Messalina, o seu comportamento  não é sem precedentes na sociedade imperial.
Depois da morosidade durante o reinado de Augusto, os comportamentos libertaram-se subitamente durante os primeiros anos do reinado de Tibério.
Algumas matronas não hesitaram inscrever-se na lista das prostitutas recenseadas pelas autoridades, para  poderem  amar livremente sem temer qualquer penalidade.

Em Roma os lupanares situavam-se no populoso Bairo de Suburra e, era numa destas casas na cela com o nome de Lyscica inscrito na porta,  que a esposa do mal-aventurado Cláudio se oferecia à lubricidade pública, por encontrar que os amantes ( nem sempre eram escolhidos com grande delicadeza) que tinha não lhe davam o prazer que ela desejava.

Quão grande sanguinária como prostituta, era sobre este desprezível caráter de cortesã de baixa escala que Juvénal (poeta satírico latino do fim do século I) a considerava.
Quantos homens perderam a vida apunhalados por um escravo sob as suas  ordens por terem rejeitado as suas propostas de amor, ou por terem divulgado a sua relação amorosa com a imperatriz.

Messalina tinha por hábito escapar-se do palácio aproveitando a escuridão da noite, escondendo o seu cabelo negro  com uma peruca loira, os seios cobertos com um manto de ouro, e acompanhada por um escravo (seu cúmplice) que  a guardava, e espiava os passantes nas ruas que conduziam aos bairros baixos de Roma.

Ao passar a porta do prostíbulo frequentado pela classe mais baixa de Roma, entrava  na cela da pretensa Lyscica e ali permanecia até satisfazer o seu apetite sexual.

Pela madrugada era necessário expulsar deste lugar maléfico, esta loba insaciável ainda que morta de fadiga. 
Nao havia diferença entre esta imperatriz  prostituta imunda e feroz, com as meretrizes gregas ou romanas, ou com a menos ilustre das cortisãs gregas, ainda que muito perversa e cobiçosa.

Em Messalina não havia mais que lubricidade bestial.
A sua vida foi marcada por um excesso de prazeres lascivos, extravagantes, e crueldade sanguinária.
Uma loucura monstruosa que aproveitou um poder que não estava previsto, para exercer as suas paixões lúbricas.

(Segundo o escritor C. E. Beulé (escritor e arqueólogo 1826-1874), nos personagens do século de Augusto havia um excesso de atividade libertina que era necessário reprimir.
Um temperamento que os princípios e  uma vigilância severa teria grande dificuldade em conter.)

Na sua pessoa, o prazer amargo dos sentidos e a fúria  do temperamento, tinham absorvido, desnaturado, exterminado, devorado  as outras forças.
Não havia nela amor pelas artes, pelas letras, a delicadeza intelectual que muitas vezes substitui a moral, nem sequer a presunção feminina da qual a máscara por vezes ainda se aparenta com a virtude.

 
Cláudio e Messalina-Tetradracma cunhado em Alexandria, 42-43.
Cabeça de Cláudio laureada à direita.
TI KɅAYΔI KAIΣ ΣEBA  ΓEPMANI AYTOKP
Rev. Messalina com véu, diadema e drapeada à esquerda, com duas  espigas  no braço  esquerdo, e o direito estendido com duas crianças na mão, (Britânico e Octávia).
MEΣΣAɅI NA KAIΣ ΣEBAΣ


Cláudio e Messalina, AE 18 cunhado em Knossos, cerca de 48.
Anv. Cabeça de Cláudio à esquerda.
CLAVDIVS CAESAR AVG GERMANICVS
Rev. Messalina drapeada à direita.
VALERIA MESSAL
Minada pelo vício, escrava do seu corpo, a volúpia  era o quotidiano deste ser que, por não estar sujeito a qualquer repressão, desenvolveu-se como uma doença crónica.
Todos os vicíos que um poder ilimitado lhe permitia satisfazer, levavam fatalmente à mesma atividade : a voluptuosidade.

Uma das maiores obcenidades que lhe são atribuidas, foi quando Messalina  se interessou pelo seu padrasto Ápio Silano, (segundo esposo da sua mãe)  que não cedeu às suas investidas.
Messalina que  não lhe perdoou esta ofensa, conspirou contra ele e Cláudio deu ordens para que Ápio fosse executado. 

Cláudio, Informado por Tibéruis Claudius Narcissus (um dos seus espiões) acabou por descobrir que além da sua deboche, de todos os escândalos, inclusive a sua prostituição em bordéis imundos, Messalina também tinha esposado o seu amante Gaius Silius, com um contrato de casamento em boa e devida forma.

A gota de água que fez transbordar o vaso.
Cláudio assinou o contrato de casamento, porque lhe disseram que o documento era uma forma de o proteger e condenar outros contra uma ameaça que alguns bruxos tinham anunciado.
O imperador não perdoou esta ofensa, e deu ordens para que fosse assassinada, o que aconteceu no ano 48 nos jardins de Lucullus.

Informado da morte de Messalina quando se encontrava num banquete com alguns amigos, Cláudio nem perguntou quem a tinha matado, apenas pediu para lhe encherem o copo e continuou a comer. (Suetónio, Cláudio, 26,  (Pag. 13/19)2


Cláudio e Messalina AE 20  cunhado na Lídia, 43-49
Anv. Bustos laureados e drapeados de Messalina e Cláudio.
TI KɅAY KAI ΣEBAΣ
Rev. Britânico em pé vestido com a toga, e espigas de milho na mão direita.
(Toga: peça de vestuário característica da Roma Antiga.)

Assim pereceu a incarnação da luxúria. Quanto a Cláudio, após alguns dias de silêncio declarou que não voltava a casar.

Esta é uma história quase incrível e muito controversa, mas sem dúvida com alguma verossimilidade.
Uma análise desta estranha personalidade da Roma Imperial, “Messalina”, uma mulher fatal, da qual ainda fica muito por contar.

MGeada

Bibliografia

Gérard Minaud ; Les Vies des Douze Femmes D´Empereur Romain-Devoirs, Intrigues & Voluptés, Paris, L´Hammatan, 2012, chap. 2, La vie de Messaline, femme de Claude, p. 39-64.
Pierre Grimal ; L´Amour à Rome, Petite Bibliothèque Payot, 1995.
Dina Sahyouni, Le Pouvoir Critique des Modeles Féminins dans les Mémoires Secrets : Le Cas  de Messaline.
Paul Veyne : La Société Romaine, Points Histoire, Editions du Seuil, 1995.
Jean-Yves Milton : Messalina