terça-feira, 23 de abril de 2013



LABIRINTO DE CNOSSOS  

Construído em Creta a partir de cerca do ano 1700 a.C., o Palácio de Cnossos com as suas inumeras salas e corredores entrelaçados, é certamente o “Labirinto de Cnossos” que a mitologia atribui ao Minotauro.
Mas que esconde a lenda do Minotauro? E o palácio, era efectivamente um palácio?
Até ao fim do século XIX, antes da colonização grega, só sabíamos sobre Creta , o que alguns autores antigos  escreveram.
O assunto gira sempre à volta do labirinto e do suposto arquitecto Dédalo, originário de Atenas, forçado a exilar-se por ter assassinado um sobrinho.

Cnossos, estáter-420 a.C..
Anv. Minotauro a correr para a direita.
Rev. Labirinto. 

Astério, (na mitologia senhor das estrelas) rei de Creta, era filho e sucessor de Tectano e de uma filha de Creteo.
Quando Europa chegou à ilha após a sua aventura com Zeus, Astério acollheu-a e, embora não quizesse ter filhos da mulher que tinha sido uma das amantes do deus, casou com ela.
Todavia, tratou e educou como pai os filhos que sua esposa teve com Zeus: Minos, Radamanto e Sarpédon.
Após a morte de Astério, Minos baniu os irmãos que lhe contestavam o trono: afirmou que tinha recebido aprovação dos deuses para reinar e, para confirmar, declarou que obtinha todas as realizações dos seus anseios.
Prometeu então a Poseídon (Neptuno dos romanos) se o ajudasse, sacrificar em holocausto o primeiro animal que saísse do mar.
Quiz o destino que fosse um magnífico touro branco como ele nunca tinha visto.
Ao ver o majestuoso animal, Minos recusou sacrificá-lo, e ofereceu a Posídon um mais comum.
O “Deus do Mar” que não ficou contente com a troca de animais, decidiu vingar-se e  pediu a Afrodite (Vénus), para fazer o necessário para o castigar. Foi assim que a “Deusa do Amor” inspirou a Pasífae (ou Pasífaa) esposa de Minos, um amor irresistível pelo touro branco, ao ponto de tencionar copular com ele mas: como fazer?

Cnossos, estáter-420 a.C..
Anv. Minotauro a correr para a esquerda.
Rev. Labirinto.

Vivia então em Cnossos, Dédalo um famoso arquiteto a quem Pasífae pediu que lhe construisse uma vaca  tão perfeita que enganasse o touro, e na qual  ela  se pudesse esconder e copular com ele.
O touro ao ver a estátua tão perfeita, pensou tratar-se de uma verdadeira vaca,  e assim a rainha conseguiu concretizar o seu desejo.

Cnossos, estáter-cerca de 350 a.C..
Anv. Ariana ou Afrodite? à direita no interior de um labirinto.
Rev. Zeus sentado num trono com um cetro na mão direita.
   
Pasífae deu à luz um monstro. “O Minotauro”; tinha corpo de homem e cabeça  de touro: alimentava-se com carne humana, e colocou por conseguinte um grande problema ao rei Minos.
Este, em primeiro mandou-o acorrentar, mas o touro era tão forte que quebrava todas as correntes.
O rei pediu então ao arquitecto Dédalo, que lhe construísse junto ao seu palácio um complexo com numerosos corredores e salas emaranhadas, com formas tão complicadas, para que ninguém (homem ou animal) uma vez dentro, não mais pudesse encontrar o caminho para sair.
Era  o “LABIRINTO”. 
(Ele mesmo por ter desagradado ao rei, encontrou-se lá perdido com seu filho Ícaro,  e foi através dos ares que conseguiu evadir-se ).
Egeu rei de Atenas, após ser derrotado numa guerra contra Creta, ficou a pagar  um tributo no qual também eram incluídos, sete rapazes e sete raparigas que Minos metia no labirinto, para servirem de repasto ao minotauro.
Aquando do envio do terceiro tributo, Teseu filho do rei Egeu que estava presente, pensou que era tempo de terminar com tão grande barbaridade, decidiu tomar o lugar de um jovem e assim rumou para Creta.

Cnossos, estáter-III século a.C..                                                  
Anv. Hera com o stéfanos na cabeça à esquerda.
Rev. Labirinto e legenda

Na viagem da ida utilizou no seu barco velas pretas. Para o regresso se vencesse o Minotauro, ulilizaria velas brancas que o pai lhe tinha oferecido.
Chegado a Creta, a bela Ariana filha de Minos apaixonou-se por Teseu, e como ele estava decidido em matar o Minotauro, ela consentiu ajudá-lo e ofereceu-lhe uma espada.
Combinaram então utilizar uma astúcia bastante simples para que Teseu encontrasse o caminho de regresso, após ter executado a difícil tarefa.
Apenas lhes fazia falta um novelo de fio.
Ariana ficou à entrada do labirinto segurando o novelo que ia desenrolando à medida que o seu bem-amado avançava.
Teseu que encontrou o Minotauro adormecido, matou-o com um único golpe de espada na cabeça, e  libertou os jovens rapazes e raparigas.
Para o regresso, apenas teve que seguir o fio que Ariana segurava firmemente, e todos saíram sem dificuldade do labirinto.
Ao ter conhecimento que os atenienses tinham fugido, Minos pensou que eles só podiam ter conseguido com a ajuda de Dédalo.

Cnossos, estáter-320-300 a.C.
Anv. Deméter à direita.
Rev. Labirinto, seta e aljava.

Em consequência, prendeu o pai e filho no labirinto para confirmarem  a excelência do plano, dado que sem indicação nem o seu autor podia  encontrar a saída.
Minos certamente não contava com a imaginação do arquiteto, que de seguida disse ao filho.
A nossa fuga pode ser  dificultada por  terra ou por  água  mas,  os ares e o céu estão livres, e daí fabricou dois pares de asas que fixaram com cera de abelha nos ombros.
Antes de levantarem voo, Dédalo aconselhou o filho para não voar muito alto, pois ao aproximar-se do sol, a cera podia derreter e as asas caírem.
Ambos se elevaram sem grande esforço e saíram de Creta mas, o entusiasmo com este novo e maravilhoso poder incitou Ícaro a subir cada vez mais e, recusando ouvir os conselhos do pai, as asas descolaram-se e caiu ao mar.
O pai aflito continuou voando até à  Sicília, onde foi recebido pelo rei Cocálos.
Furioso com esta fuga, o rei Minos decidiu procurá-lo. Para isso, lançou um desafio que só um homem como Dédalo podia ganhar.
Prometeu grande recompensa a quem fosse capaz de passar um fio no interior da conha dum caracol.
Coisa muito fácil para Dédalo, que  atou um fio à pata de uma formiga e esta entrou por um lado deu a volta à espiral, e saíu pelo outro..
Minos soube então do paradeiro do arquiteto, mas como Cocálos recusou a entregar-lhe o seu hóspede, deu origem a uma guerra entre a Sicília e Creta.

Cnossos, estáter-200 a.C..
Anv. Apolo com coroa de louro à esquerda.
Rev. Labirinto circular e legenda.

Uma redescoberta

A partir de 1894, o arqueólogo Sir Arthur Evans percorreu a ilha à procura de vestígios deste período e, foi sob alguns vestígios gregos e romanos, que encontrou numerosos testemunhos da civilização cretense. 
Em 1900, Evans iniciou as escavações no Palácio de Cnossos.
Os trabalhos depressa se averiguaram frutuosos trazendo  à luz do dia, uma profusão de salas e corredores, que permitem iluminar e creditar as lendas com novos elementos
Uma arquitectura tão complexa, é sem dúvida a origem das lendas mitológicas sobre o labirinto, tanto quanto, numerosos frescos e esculturas representando touros foram encontrados no local.
Porque será que o palácio tem gozado de tão negativa reputação?
Talvez na realidade nem fosse um palácio, mas um santuário onde as vítimas eram imoladas, ou mesmo um local sagrado que servia de cemitério.

                                  Palácio real ou mausoléu?

Muitos arqueólogos contestam que os grandiosos vestígios posto à luz do dia por Evans, fosse um palácio habitacional: a sua localização náo é muito propícia para esse efeito.
Muito exposta e difícil de defender, não concorda com o espírito da época em que os gregos e egeus, efectuavam constantemente raides e invasões no Mar Mediterrâneo.
Além disso, as fontes de água são poucas em redor do palácio, o que daria origem a grandes problemas para abastecer a população em caso de cerco.
Quanto às salas: durante muito tempo designadas como apartamentos reais graças aos objectos encontrados: são apenas subsolos húmidos, e desprovidos de janelas.


Cnossos, estáter-200 a.C..
Anv. Zeus ou Minos? com coroa de louro à direita.
Rev. Labirinto e legenda.

Imaginamos mal um rei instalar-se ali intencionalmente.
E por último: o palácio não tem cozinhas nem cavalariças, particularidade difícilmente concebível, para um edifício desta importância.
Segundo o arqueólogo alemão Hans Georg Wunderlich, o palácio terá sido um imenso mausoléu destinado a receber, mas nunca terá sido habitado.
Os enormes potes de terra que se supunha  terem contido grãos ou óleo; são urnas onde os cadáveres eram conservados com mel.
Do mesmo modo, os silos em pedra são sarcófagos, e as canalisações, uma instalação que permitia trazer os fluídos necessários para embalsamar os corpos.
Teoria sedutora que faria do mítico Minos, uma figura alegórica da morte evidentemente temível.
No entanto, tal explicação confronta-se com um grande obstáculo, porque não foram encontrados nenhuns restos humanos, cinzas ou esqueletos nas ruínas do edifício.
Mas como as esvavações continuam, talvez um dia Cnossos nos revele todos os seus segredos.

Cnossos, estáter-200-150 a.C..
Anv. Atena com capacete à direita.
Rev. Coruja empoleirada numa ânfora, labirinto e legenda.

(Figuras naturais, sinais pré-históricos, cavernas com múltiplas salas e corredores, desenhos naturais de certos mariscos; o labirinto aparece em toda a parte e em diferentes épocas).
Símbolos labirínticos são também observados nas mais antigas gravuras rupestres, mas, a primeira representação verdadeiramente complexa, foi encontrada numa sepultura neolítica  escavada 3 000 anos a.C., perto de Luzzanas (Sardenha).
Um pouco espalhado em todo o mundo, além do exemplo cretense, encontramo-lo também em Cornouailles (França), em Tell Rifaat (Síria) gravado sobre mégalitos entre 1 800 e 1 400 antes da nossa era, e com alguns séculos a menos em Pontevedra na Galiza e Conímbriga.
   
Cnossos, estáter- 420 a.C..
Anv. Minotauro a correr para a direita.
Rev. Labirinto.

As civilizações gregas  e mais tarde as romanas, reproduziram-no um pouco por todo o lado.
Existe simultâneamente na Índia, na  América do Sul, e alguns países nórdicos, (mais de trezentos na Escandinávia).
Geralmente são labirintos com dez a vinte metros de diâmetro desenhados no chão com enormes blocos de pedra . A sua construção estende-se desde o primeiro milénio da nossa era até a alta idade-média.
Jogo, religião ou mágia; o labirinto apareceu mais tarde na iconografia cristã, e encontra-se com alguma frequência no pavimento de algumas catedrais.
Encontramo-lo também  em jardins dos séculos XVII e XVIII, onde o labirinto é por excelência iniciador e conduz ao ponto central que é o encontro.
A prova final onde o homem se encontra confrontado com o nada.

   Labirinto de Luzzanas (Sardenha)

 Labirinto de Micénas-Pilos
(Uma das mais antigas representações conhecidas.)
Museu Nacional arqueológico de Atenas.


  
    Minotauro no labirinto.
   Mosaico romano encontrado em Conímbriga.



MGeada


Bibliografia

Marie-Odile hartmann- Ariane contre le Minotaure; Editions Nathan 2004.
(Les Histoires Noirs de la Mythologie).
Paul de Saint-Hilaire-L’Univers Secret du Labyrinthe; Editions Alphée