sábado, 14 de dezembro de 2013


“Madiba”

Nelson Rolihlahla Mandela, Mvezo (União da África do Sul)18 de junho de 1918- Joanesburgo, 5 de dezembro de 2013.

Filho de chefe tribal, Mandela renunciou ao trono da sua tribo para abraçar a carreira de advogado.
Ainda jovem envolveu-se  na ação política e militante consagrando parte da sua vida na luta contra o apartheid, instuído em 1948.
Quatro anos antes Mandela tinha aderido ao Congresso Nacional Africano.

Após a promulgação da era do apartheid, chefiou a campanha “De Desafio”.

Em 1956 a sua resistência continua pacífica, o que não impediu que fosse acusado de traição e preso com mais 156 pessoas.

Sinal bilingue (inglês-africanêr) formalizando a segregação racial em prol da população branca no âmbito da política do apartheid.

Auxiliados com fundos estrangeiros os acusados são absolvidos e libertados gradualmente.
Entretanto a campanha “Desafio” continua, e em sinal de protesto os negros queimam o  passe obrigatório, forçados a usar permanentemente.

Mandela queima um passe obrigatório, em 1960

Em 1960, aquando duma nanifestação pacífica em Sharpeville com cerca de 5 000 pessoas,  sem aviso prévio a polícia abriu  fogo.
Sessenta e nove pessoas morreram, entre elas nove mulheres e dez crianças com uma bala nas costas quando tentavam fugir à violência.

Tragédia de Sharpeville: 69 mortos.

A partir daí Mandela e a ANC abandonaram a estratégia não violenta, por uma transição para a luta armada que ele descreveu como de último recurso.
Preso em 1962, Mandela foi condenado dois anos depois a prisão perpétua por traição e colaboração com o Partido Comunista.


Preso tornou-se um ícone  no mundo, mas a  luta continua e organiza-se para tombar o regime.
Após 28 anos de cativeiro, em fevereiro de 1990 o presidente Frederick De Klerk anunciou que o governo decidiu libertar incondicionalmente Nelson Mandela.

Com 72 anos aquele que durante tantos anos incarnou a luta pela igualdade dos direitos humanos, da paz e da justiça, é finalmente livre.
Em todo o mundo este evento foi transmitido em direto, e como resultado as leis sobre a segregação foram abolidas.


Primeiro presidente negro Sul Africano.

A chegada ao poder do presidente De Klerk, mudou inevitalvelmente o curso da história.
Em 1993, os dois homens receberam o Prémio Nobel da Paz, e é acompanhado pelo mesmo Frederick De Klerk que em 1994, Nelson Rolihlahla Mandela jurou  perante a constituição ao tornar-se o primeiro presidente negro da África do Sul.

Mandela e De Klerk

Em junho de 1999, Mandela com 81 anos passa o testemunho e apoia Thabo Mbeki, responsável pela reconstrução económica do país, enquanto ele se consacra à reconciliação nacional.

Uma aposentadoria ativa e ainda com forte influência até 2004, quando  se aposentou oficialmente.

Aos 92 anos na ocasião  em que o seu país e, primeira nação africana se prepara para receber o campeonato do mundo de futebol, Mandela sofreu grande tragédia familiar com a morte da sua bisneta num acidente rodoviário.

Uma saúde frágil.

Desta vez retiro-me definitivamente, (disse com humor) se me chamarem responderei, mas agradecia que me deixassem tranquilo.
Mas uma figura como Mandela, não se podia afastar fácilmente da cena nacional e internacional.

A sua fundação para a educação e luta contra a AIDS, uma doença que lhe levou um filho em 2005, é financiada por uma série de concertos que portam o seu número de matrícula da prisão: “46664”.

Número  de Mandela na ilha Robben.

Em 2010, a ONU decretou o dia 18 de junho, dia do seu aniversário “Dia de Mandela” que se tornou o dia internacional dedicado à promoção da paz.

Fragilizado por problemas de saúde ligados a 27 anos de prisão e trabalhos forçados impostos pelo regime do Apartheid, Nelson Mandela foi hospitalizado várias vezes, o que não impediu de receber visitas de altos dignitários.

Em 18 de junho 2011, dia do seu aniversário recebeu a visita de Michelle Obama,  esposa do primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Um ano depois na data do seu aniversário foi visitado pelo ex-presidente democrata Bil Clinton.

Mandela e Michelle Obama

Mandela e Bil Clinton

Em novenbro de 2112 , o Banco Central Sul Africano pôs em circulação uma série de notas de 10, 20, 50, 100 e 200 Rand, com a efígie de Nelson Mandela, uma das personalidades mais respeitadas no mundo.











África do Sul 5 Rand

África do Sul 5 Rand, comemoração do nonagésimo aniversário de Nelson Mandela.

Banco de Ruanda, moeda comemorativa de 100 francos  

Banco de Ruanda, moeda comemorativa de 2 000 francos 

África do Sul, medalha comemorativa,10 anos de liberdade.

Ilha Robben-(África do Sul) medalha comemorativa.
Uma longa caminhada para a liberdade, 1964-1982
(Ilha onde Nelson Mandela  e  seus companheiros estiveram encarcerados).

“Madiba”, seu nome de clã, viveu várias vidas todas elas  dedicadas a uma só causa que sobreviverá em seu nome para sempre.


MGeada

sexta-feira, 22 de novembro de 2013


Meio Dólar Kennedy


John Fitzgerald Kennedy, 29 de maio de 1917-22 de novembro de 1963

Cunhado em 1964, no momento da sua emissão menos de vinte e cinco anos tinham passado, depois de ter sido emitido o meio dólar Franklin, por isso uma lei especial teve de ser votada para que se pudesse cunhar o meio dólar com a efígie de Kennedy.

Ainda não tinham passsado três semanas depois do assassinato do seu predecessor John Fred kennedy, quando o presidente Johnson pediu ao congresso para votar essa lei.

Uma razão importante motivou a escolha do meio dólar, porque era a única moeda divisionária sem a efígie dum presidente.

A cunhagem desta moeda começou simultâneamente nas oficinas monetárias de Denver e Filadelfia no dia 11 de fevereiro de 1964.

O escultor foi Cilroy Robertz que já tinha o cunho que serviu para cunhar a medalha com a efígie de Kennedy na série  presidencial.

O escultor fez este cunho a partir de uma fotografia e da sua própria observação do presidente quando este trabalhava na Casa Branca, e foi neste mesmo cunho que ele se inspirou para a cunhagem da moeda.

O tipo do reverso e de Frank Gasparros, e mostra a heráldica dos Estados Unidos.
Os treze primeiros Estados são representados por um número igual de folhas de oliveira, de setas, de nuvens e de estrelas por cima da águia.  
Cinquenta estrelas que simbolizam os cinquenta Estados Americanos formam um círculo à volta da águia.

O Meio dólar Kennedy não é uma moeda comemorativa, ele foi emitido regularmente, porque segundo a lei o seu tipo não podia ser modificado antes dos vinte e cinco anos previstos, a não ser que o congresso decidisse acordar uma autorização especial, o que veio a acontecer alguns anos depois.

Cunhado a milhões de exemplares, nenhum meio dólar Kennedy se via a circular; estas moedas eram guardadas em lembrança do Presidente.

Afim de atender ao pedido dos americanos e colecionadores de todo o mundo, o governo americano continuou a cunhar o meio dolar durante alguns anos criando assim um caso único na história das moedas americanas.

Meio dólar kennedy, cunhado em Denver em 1968.
Anv. Efígie do presidente  John Fitzgerald Kennedy à esquerda,
LIBERTY  IN GOD WE TRUST  1968.
Rev. Brasão dos Estados Unidos,
UNITED STATES OF AMERICA  HALF DOLLAR.

Cunhagem
1964    433 460 212
1965      65 879 366
1966    108 894 932
1967    285 046 978
1968    246 951 930
1969    129 881 800

Medalha do presidente  John Fitzgerald Kennedy
(Série presidencial)

MGeada


domingo, 27 de outubro de 2013

Aníbal Barca 247-183 a.C.

Filho de Amilcar Barca (cerca de 270-228 a.C.), Aníbal nasceu na Bitínia e passou parte da sua juventude com o seu pai em campos militares na Espanha.

General e homem de estado, (um dos maiores líderes da história) cresceu num ambiente familiar que odiava os romanos e, ainda adolescente distinguiu-se pela sua bravura e inteligência.
É hoje impossível saber de onde veio a iniciativa da grande expedição que ele empreendeu contra Roma.

Seria um plano de Cartago?
Uma ideia do seu pai ou sua comitiva?
Ou seria um projeto imposto a um estado cujos chefes estabelecidos em Espanha não eram totalmemte independentes?

Aníbal provocou o furor dos romanos ao atacar a pequena cidade de Sagunto (históricamente conhecida por Morvedre) perto do rio Ebro (um dos maiores rios de Espanha) violando assim o tratado entre Roma e Cartago.
Apesar da resistência lendária dos seus habitantes, após um cerco de oito meses a cidade foi completamente destruída no ano 218 ou 219 a.C..

Seria mesmo un ato intencional de Aníbal para provocar os romanos?
Nesta área controversa segundo a opinião de J. Carpopino (historiador e especialista da Roma Antiga) foi Aníbal o responsável deste conflito.
Com a guerra declarada, Aníbal lançou uma expedição por via terreste.
Sem mapas exatos do mediterrâneo, o general terá feito um cálculo errado dos itinerários possíveis para Roma.

Aníbal Barca - Espanha Cartaginesa
Duplo shekel de prata 247-183 a.C. , cerca de  213- 210 a.C.
Anv.  Aníbal ou Triptóleno ? ,  laureado à esquerda.
Rev.  Cornaca ou Aníbal ?,  montado num elefante à direita.
(Faz parte do tesouro encontrado em Mogente, (Valência-Espanha)

(Conhecidas a poucos exemplares estas moedas são célebres pela representação do elefante no reverso.
Este animal emblemático foi utilizado durante a segunda Guerra Púnica pelas tropas cartaginesas comandadas por Aníbal.
A travessia dos Alpes com estes paquidermes é uma das maiores façanhas militares da antiguidade .
O retrato laureado do anverso é tradicionalmente designado por Triptólemo (herói cujo culto estava associado à deusa Deméter  e à agricultuta) ou Melcarte, (divindade  titular da cidade fenícia de Tiro,  importada pelos colonos fenícios fundadores de Cartago).
Os traços realistas do rosto e a presença do bigode  sugerem no entanto que estamos aqui em presença do retrato de um dos membros da família de Amilcar Barca.
Se a ausência de representação contemporânea não permite a atribuição certa, a escolha de Aníbal é perfeitamente pausível, o que faria desta moeda o único e verdadeiro retrato do célebre general.)

Inicialmente com um exército composto de africanos e iberos, e a esperança de pelo  caminho aliar povos inteiros à sua causa, Aníbal saíu do país púnico já com um exército de cerca de 100 000 homens, 37 elefantes de guerra e, terá perdido metade do seu efetivo antes de encontrar os romanos comandados por Publius (Públio Cornélio Cipião) que chegaram tarde demais para impedir Aníbal de sair do Ebro e continuar a sua progressão.

 Espanha Cartaginesa
Shekel AR, cerca de 221-216 a.C.
Anv. Cabeça de Melkart ou Aníbal, laureada à esquerda.
Rev. Elefante à direita.

Depois de  alguns combates rudes com algumas tribos naturais do norte da Espanha, na Gália teve que evitar algumas tropas gaulesas inquietas, em particular na travessia do Reno para lhes escapar.
Aí também os romanos perderam a ocasião : quando dias depois Cipião chegou de Marselha, já era demasiado tarde.
Quanto à rota que Aníbal seguiu para atravessar os Alpes, todas as hipóteses foram emitidas pelos historiadores.
Hoje os itinerários  do Isère e do Monte Cenis (2 081 m) são os mais credíveis, todavia tinha que ser um itinerário difícil, de maneira a surpreender o adversário.

Aníbal e o seu exército na travessia dos Alpes

As passagens estreitas, a neve, as embuscadas dos montanheses, levou a que o exército de Aníbal chegasse exausto e reduzido à Itália, numa planície que Roma não tinha previsto defender.
Aníbal venceu o general romano Públio Cornélio Cipião na batalha do Ticino travada em novembro de 218 a.C., e novamente na batalha do Trébia em dezembro do mesmo ano.
Uma das consequências da derrota dos romanos na batalha do Ticino, foi a deserção das tribos gaulesas do norte da Itália, porque a maioria destes homens  tinham sido incorporados à força no exército romano.
Estes soldados 2 000 de infantaria  e 200 de cavalaria, uma noite no acampamento conspiraram e massacraram todos os romanos enquanto dormiam.
Quando pela manhã estes gauleses se apresentaram perante Aníbal para combater ao seu lado, este enviou-os para as suas tribos respetivas, com o objetivo de as convencer a declarar guerra a  Roma.
Algumas legiões romanas, defendiam Arezzo no sopé  dos montes Apeninos (cordilheira que se estende quase ao longo de toda a Itália).
Aníbal contornou este obstáculo passando por uma planície inundada pelo rio Arno, onde o seu éxército teve grandes dificuldades e alguns  animais morreram afogados.
Foi aqui que Aníbal perdeu um olho com uma oftalmia : fato que não o impediu de saquear a cidade sob os olhos dos romanos que não resistiram à provocação e foram massacrados numa passagem estreita no Lago Trasimeno (cerca de 128 km2 e 258m acima do nível do mar)  pelos púnicos liderados por um grande mestre de estragégia militar no ano 217 a.C..
(O saque foi muito valioso, também incluia as minas de ouro de Vercelli, “o cofre forte” romano).


Roma sem defesa, aguardava a decisão  de Aníbal que não decidiu atacar antes de restaurar o seu exército, e rever a melhor maneira de atacar, baseando-se sobre o que tinha aprendido com a infantaria romana. Atacar na ocasião propícia, ou talvez esperar por uma possível deserção dos italianos, tal como aconteceu com os gauleses.
Como a rebelião esperada não aconteceu, Aníbal  dirigiu-se para sul da província, e em Canas no dia 2 de agosto do ano 216 a.C., derrotou um exército romano duas vezes superior ao seu.
Roma encrontrou-se novamente indefesa : Aníbal que podia triunfar e gozar a sua vitória, não atacou! 
Alguns historiadores encontram algumas razões como : a espera por  reforços de Cartago : (Aníbal esperou dez anos).
A demora do aliado macedónio.
A dificuldade nesse tempo de tomar uma cidade de assalto.
Ou ainda a fidelidade da Itália Central a Roma, contrariamente à Itália meridional que se aliou massivamente à causa púnica.
   
Cartago-época de Aníbal Barca 
Meio Shekel AR cerca de 214-210 a.C.
Anv. Cabeça de Melkart à esquerda.
Rev. Elefante à direita.

Desconhecemos o motivo exato desta decisão, mas sabemos que deixou as suas tropas gozar as delícias gregas em Cápua, até ao dia em que os romanos decidiram cercar esta cidade.
O general conseguiu  atirá-los para outros campos de batalha e derrotou-os  em várias ocasiões, tomando ao mesmo tempo algumas  cidades costeiras : Tarento, Heraclea, Thurium (Túrio), Metaponte.
Todavia Aníbal não conseguiu que os romanos levantassem o cerco de Cápua.
É no contexto destas  operações de diverção que devemos situar a sua marcha sobre Roma, no ano 211 a.C..

Ao avistar a cidade, Anibal acampou alguns dias na margem do rio Anio, ao mesmo tempo que examinava as muralhas.
Um violento temporal não permitiu que o general preparasse a  batalha,  que teve lugar numa planície.
Anibal e o seu exército deviam recordar aos romanos um terror lendário, e ao mesmo tempo estima para com o adversário.

Entretanto pouco tempo depois Cápua caíu sob o poder dos romanos, que trataram a população da cidade, com grande barbaridade.
Haníbal sofreu com tanta crueldade, pois toda esta diversão tinha como objectivo desviar a atenção dos romanos de Cápua.

Cartago- Época de Aníbal Barca
Duplo shekel AR, cerca de  213- 210 a.C.
Anv.  Cabeça de Tripoleno laureada  à esquerda ?.
Rev. Elefante caminhando para a direita.

A guerra continuou sem um objetivo certo, mas não sem fazer grandes estragos.
Em 210 a.C., o exército de Aníbal que tinha tomado e saqueado 400 localidades do sul da Itália, (por estas se terem aliado novamente à causa de Roma) começou  a perder terreno e gradualmente foi empurrado para Brutum (Brútio atual Calábria Ulterior).

Apesar da fidelidade vacilante  dos latinos, no ano 209 a.C., e da chegada tardiva dos seus irmãos Asdrúbal (Barca) e depois Magão, reforços enviados por Cartago, Aníbal foi obrigado a manter-se num território cada vez mais restrito.   

Quando no ano 203 a.C., após o desembarque de Cipião na África, e Cartago pediu a Aníbal que regressasse, este já só ocupava Crotone e as sua imediatações.
Foi nessa ocasião que Aníbal mandou gravar as suas proezas na fachada do templo de Hera Lacínia : (façanhas que ele pensava já concluídas).

Depois de saquear  Brutum, rumou para a África e encontrou Cipião com a esperança de poder negociar . Como não teve possibilidade, desencadeou-se  a batalha de  Zama (19 de outubro 202 a.C.), em condições que de início já lhe eram desfavoráveis.
A desordem fez o resto : Cartago foi derrotada no ano 202 a.C., e Aníbal obrigado a aceitar as duras condições de paz impostas por Cipião.
 
Depois de se tornar “sufeta” (um dos pricipais magistrados da antiga Cartago), realizou grandes reformas, e restaurou a atividade económica.

Esta sua dedicação à política interna de Cartago, não só inquietou Roma, como também os seus inimigos políticos. Além disso, ele optou por se refugiar na corte do rei da Síria ; Antíoco III Magno, ou Antíoco o Grande (222-187 a.C.), do qual se tornou conselheiro.

Cartago-Época de Aníbal Barca
Shekel AR, cerca 221-201 a.C.
Anv. Cabeça masculina , Anibal ou Melkart ? , à direita.
Rev. Elefante à direita M.

As intrigas da corte : o seu fracasso no ano 190 a.C, à frente de uma esquadra aquando da batalha naval que teve lugar na embocadura do Erimedonte, (província romana da Panfília, hoje Turquia),  e a paz de Apameia 188 a.C., (dois anos depois da batalha de Magnésia entre Antíoco Magno e os romanos) levaram a que ele se refugiasse na  Bitínia, onde prestou bons e leais serviços ao rei Prúsias (? por cerca de 183 a.C.), onde continuou a intrigar  contra Roma, fizeram da sua velhice um período de decepções.

Em todos os lados  Roma alcançou vitórias e Cartago chegou a duvidar  da sua lealdade.
Suspeitando que Prúsias tencionava entregá-lo aos romanos, Aníbal suicidou-se no ano 183 a.C..
Deste grande general “Anibal” apenas se conhecem as ações e os historiadores esforçam-se para conhecer as suas intenções : tarefa muito difícil.

Sabemos que além de grande guerreiro, foi também um político que sempre procurou aliados contra Roma, e a coalizão que sempre desejou formar com Siracusa e a Macedónia nunca a conseguiu.

Teimosamente sempre guerreou contra Roma, com uma cruzada mal apoiada por Cartago, apenas ajudado nesta obstinação pelo seu conhecimento das táticas militares macedónicas, um dos seus muitos conhecimentos da cultura helénica, e sempre teve sobre o seu exército, autoridade e supremacia.

Segundo observou Camille  Jullian (historiador francês 1859-1933) talvez ele se tenha inspirasse nas suas qualidades de prudência, teimosia e imaginação aventureira.

De alguns dos seus defeitos  podemos citar : crueldade, e um prazer imoderado de destrução e saque das cidades vencidas.

Julles Michelet (historiador francês 1798-1874) também não terá exagerado quando o tratou de “condottiero” (mercenário que controlava uma milícia sobre a qual tinha comando ilimitado, e estabelecia contratos com qualquer estado interessado nos seus serviços).

MGeada

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Valéria Messalina Augusta

O primeiro fato controverso da vida de Messalina é a sua data de nascimento.
Alguns historiadores apontam o ano 17, porém é quase certo que tenha nascido entre os anos 20 e 25.

Filha de Barbatus Messal e Domícia Lépida, Messalina era também neta de Antónia a Velha, de Lúcio Domício e bisneta de Marco António.

Descendente de família nobre romana, Messalina casou com o imperador Cláudio no ano 38 ou 39, teria 13 ou 14 anos, idade legal de casamento para uma romana nessa época.

Uma rapariga com esta idade não podia ter ambições políticas.

Para a família Messala, o casamento de Messalina com Cláudio foi de grande conveniência visto que Cláudio era o único parente vivo de então imperador Calígula.

Para Cláudio esta união também foi importante, dado que Messalina era descendente de uma familia nobre,  não esquecendo a sua idade avançada (cerca de 50 anos), e os seus defeitos físicos: coxo, gaguejava e o mau hábito de cuspir enquanto falavava.

Messalina foi a terceira esposa de Cláudio do qual teve dois filhos.
Cláudia Otávia no ano 40 (futura esposa do imperador Nero), e Britanicus (Britânico) no ano 41, três semanas após a nomeação de Cláudio ao principado.

 
Messalina- AE 18 cunhado em Eólia (ou Eólida) 41-48
Anv. Busto de Messalina drapeado à direita,
CEBACTH MECAɅEINA
Rev. Zeus nu, com um bastão na mão esquerda e uma águia na direira,
AIΓAEION


Messalina- AE 23cunhado em Niceia, Bitínia, 41-48.
Anv. Busto drapeado de Messalina à esquerda
MEΣΣAɅEINA ΣEBAΣTH NEA HPA
(Messalina Augusta Nova Hera)
Rev. Templo de Hera Niceia
ΓAΔIOΣ POϒФOΣ ANΘϒΠATOΣ
(Caius Claudius Rufus Procônsul)

Apesar da reputação (libertina)  da sua esposa, a paternidade de Cláudio nunca foi posta em causa.
Segundo os historiadores  nos primeiros tempos de vida comum, tudo indicava ser um casal feliz, mas as coisas complicaram-se aquando da elevação de Cláudio ao poder supremo.

Tirânica, logo que ascendeu ao poder e como primeira dama do império, Messalina impôs-se como uma imperatriz de uma malvadez sem limites com  três principais objetivos.
A continuidade dinástica, os seus amores clandestinos, e o gosto pela riqueza.

Célebre pelo seu invulgar apetite sexual, (a história também lhe atribui algumas ações complacentes), a imperatriz tornou-se a imagem do escândalo e da luxúria,  que segundo o escritor Juvénal não hesitava prostituir-se publicamente nos bordéis de Subura e, transformou parte do palácio imperial num autêntico lupanar.

Aqui Messalina (segundo Dion Cassius LX, 18) não só exercia a sua própria devassidão, como também convidava, incentivava e obrigava outras mulheres a prostituir-se com os seus próprios amantes entre os quais alguns nobres, legionários e mesmo escravos na presença dos maridos.

Por estes homens que consentiam, sentia amizade e mesmo admiração que  ela recompensava com honras e  postos de comando.
Para quem rejeitava estas obscenidades: odiava-os, conspirava para os rebaixar e por vezes mandava assassinar.


Messalina e Antónia- AE 17 cunhado em Capadócia (Cesareia) 41-48.
Anv. Busto de Messalina laureado e drapeado à direita.
Rev. Busto de Antónia (sua avó)drapeado à direita.

Tudo isto se praticava com muita frequência e Cláudio levou muito tempo a perceber o que se passava no seu palácio.

É certo que Messalina fazia tudo para o distrair o imperador, metendo escravas na sua cama e ao mesmo tempo recompensar quem a encobria, e castigar severamente alguém em que não tivesse confiança e pudesse avisar o marido da atividade da esposa.

Exemplo: no ano 43, por suspeitar da fidelidade de Catonius Justus comandante da Guarda Pretoriana, mandou-o assassinar.
O mesmo aconteceu a Júlia, filha de Druso e neta de Tibério, entretanto esposa de Nero (sobrinho de Cláudio) da qual ela tinha ciúmes.  

Alguns historiadores contemporâneos tendem todavia embelezar a vida de Messalina, mas todos reconhecem a realidade da devassidão, da libertinagem da imperatriz, enquanto outros dizem que não era um caso único.
É certo que outras damas do império foram libertinas, mas Messalina direi que foi um caso excepcional.



Cláudio e Messalina - AE 20, cunhado em Creta,  cerca do ano 43.
Anv. Cabeça de Cláudio laureada à esquerda.
TI KLAUDIUO KAESAR GERMA SEBASTOS GERMA 
(Tibério Cláudio César Augusto Vencedor dos Germanos .
Rev. Messalina com diadema e drapeada à direita.
OUALERIA MESSALEINA
(Valéria Messalina)


Cláudio e Messalina-AE 17 cunhado em Paflagónia (ou Paflagônia) 40-41.
Cabeça de Cláudio laureada à direita.
CLAVDIVS CAES AVG CIF ANNO LXXXVI
Rev. Busto de Messalina drapeado à direita.
MESSALINA AVGVSTA

Se a história tem enegrecido a personalidade de Messalina, o seu comportamento  não é sem precedentes na sociedade imperial.
Depois da morosidade durante o reinado de Augusto, os comportamentos libertaram-se subitamente durante os primeiros anos do reinado de Tibério.
Algumas matronas não hesitaram inscrever-se na lista das prostitutas recenseadas pelas autoridades, para  poderem  amar livremente sem temer qualquer penalidade.

Em Roma os lupanares situavam-se no populoso Bairo de Suburra e, era numa destas casas na cela com o nome de Lyscica inscrito na porta,  que a esposa do mal-aventurado Cláudio se oferecia à lubricidade pública, por encontrar que os amantes ( nem sempre eram escolhidos com grande delicadeza) que tinha não lhe davam o prazer que ela desejava.

Quão grande sanguinária como prostituta, era sobre este desprezível caráter de cortesã de baixa escala que Juvénal (poeta satírico latino do fim do século I) a considerava.
Quantos homens perderam a vida apunhalados por um escravo sob as suas  ordens por terem rejeitado as suas propostas de amor, ou por terem divulgado a sua relação amorosa com a imperatriz.

Messalina tinha por hábito escapar-se do palácio aproveitando a escuridão da noite, escondendo o seu cabelo negro  com uma peruca loira, os seios cobertos com um manto de ouro, e acompanhada por um escravo (seu cúmplice) que  a guardava, e espiava os passantes nas ruas que conduziam aos bairros baixos de Roma.

Ao passar a porta do prostíbulo frequentado pela classe mais baixa de Roma, entrava  na cela da pretensa Lyscica e ali permanecia até satisfazer o seu apetite sexual.

Pela madrugada era necessário expulsar deste lugar maléfico, esta loba insaciável ainda que morta de fadiga. 
Nao havia diferença entre esta imperatriz  prostituta imunda e feroz, com as meretrizes gregas ou romanas, ou com a menos ilustre das cortisãs gregas, ainda que muito perversa e cobiçosa.

Em Messalina não havia mais que lubricidade bestial.
A sua vida foi marcada por um excesso de prazeres lascivos, extravagantes, e crueldade sanguinária.
Uma loucura monstruosa que aproveitou um poder que não estava previsto, para exercer as suas paixões lúbricas.

(Segundo o escritor C. E. Beulé (escritor e arqueólogo 1826-1874), nos personagens do século de Augusto havia um excesso de atividade libertina que era necessário reprimir.
Um temperamento que os princípios e  uma vigilância severa teria grande dificuldade em conter.)

Na sua pessoa, o prazer amargo dos sentidos e a fúria  do temperamento, tinham absorvido, desnaturado, exterminado, devorado  as outras forças.
Não havia nela amor pelas artes, pelas letras, a delicadeza intelectual que muitas vezes substitui a moral, nem sequer a presunção feminina da qual a máscara por vezes ainda se aparenta com a virtude.

 
Cláudio e Messalina-Tetradracma cunhado em Alexandria, 42-43.
Cabeça de Cláudio laureada à direita.
TI KɅAYΔI KAIΣ ΣEBA  ΓEPMANI AYTOKP
Rev. Messalina com véu, diadema e drapeada à esquerda, com duas  espigas  no braço  esquerdo, e o direito estendido com duas crianças na mão, (Britânico e Octávia).
MEΣΣAɅI NA KAIΣ ΣEBAΣ


Cláudio e Messalina, AE 18 cunhado em Knossos, cerca de 48.
Anv. Cabeça de Cláudio à esquerda.
CLAVDIVS CAESAR AVG GERMANICVS
Rev. Messalina drapeada à direita.
VALERIA MESSAL
Minada pelo vício, escrava do seu corpo, a volúpia  era o quotidiano deste ser que, por não estar sujeito a qualquer repressão, desenvolveu-se como uma doença crónica.
Todos os vicíos que um poder ilimitado lhe permitia satisfazer, levavam fatalmente à mesma atividade : a voluptuosidade.

Uma das maiores obcenidades que lhe são atribuidas, foi quando Messalina  se interessou pelo seu padrasto Ápio Silano, (segundo esposo da sua mãe)  que não cedeu às suas investidas.
Messalina que  não lhe perdoou esta ofensa, conspirou contra ele e Cláudio deu ordens para que Ápio fosse executado. 

Cláudio, Informado por Tibéruis Claudius Narcissus (um dos seus espiões) acabou por descobrir que além da sua deboche, de todos os escândalos, inclusive a sua prostituição em bordéis imundos, Messalina também tinha esposado o seu amante Gaius Silius, com um contrato de casamento em boa e devida forma.

A gota de água que fez transbordar o vaso.
Cláudio assinou o contrato de casamento, porque lhe disseram que o documento era uma forma de o proteger e condenar outros contra uma ameaça que alguns bruxos tinham anunciado.
O imperador não perdoou esta ofensa, e deu ordens para que fosse assassinada, o que aconteceu no ano 48 nos jardins de Lucullus.

Informado da morte de Messalina quando se encontrava num banquete com alguns amigos, Cláudio nem perguntou quem a tinha matado, apenas pediu para lhe encherem o copo e continuou a comer. (Suetónio, Cláudio, 26,  (Pag. 13/19)2


Cláudio e Messalina AE 20  cunhado na Lídia, 43-49
Anv. Bustos laureados e drapeados de Messalina e Cláudio.
TI KɅAY KAI ΣEBAΣ
Rev. Britânico em pé vestido com a toga, e espigas de milho na mão direita.
(Toga: peça de vestuário característica da Roma Antiga.)

Assim pereceu a incarnação da luxúria. Quanto a Cláudio, após alguns dias de silêncio declarou que não voltava a casar.

Esta é uma história quase incrível e muito controversa, mas sem dúvida com alguma verossimilidade.
Uma análise desta estranha personalidade da Roma Imperial, “Messalina”, uma mulher fatal, da qual ainda fica muito por contar.

MGeada

Bibliografia

Gérard Minaud ; Les Vies des Douze Femmes D´Empereur Romain-Devoirs, Intrigues & Voluptés, Paris, L´Hammatan, 2012, chap. 2, La vie de Messaline, femme de Claude, p. 39-64.
Pierre Grimal ; L´Amour à Rome, Petite Bibliothèque Payot, 1995.
Dina Sahyouni, Le Pouvoir Critique des Modeles Féminins dans les Mémoires Secrets : Le Cas  de Messaline.
Paul Veyne : La Société Romaine, Points Histoire, Editions du Seuil, 1995.
Jean-Yves Milton : Messalina